O número impressiona ainda mais quando se leva em conta que mais de 20 milhões de brasileiros – o equivalente a toda população da Grande São Paulo – ingressaram no mercado de trabalho nos últimos dez anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ao mesmo tempo, cresceu a proporção de pessoas que trabalham menos de 14 horas por semana – o salto foi de 3% para 8,3% do total da população economicamente ativa, um ganho de 5 milhões de trabalhadores. A maior parcela da população tem uma jornada semanal que varia entre 40 horas e 44 horas.
A redução da jornada de trabalho nos últimos anos está diretamente ligada ao aumento real no salário do brasileiro – hoje, ganha-se mais por hora trabalhada que em 2000 – e também à formalização do mercado de trabalho. A porcentagem de trabalhadores com carteira assinada pulou de 36% para 44% entre 2000 e 2010 – na contramão, os funcionários sem carteira de trabalho caíram de 24% para 18%. “A formalização do trabalho regula a jornada de trabalho e a hora extra. A empresa ou o empregador vão evitar de pagar hora extra, portanto, vão reduzir a jornada para o que é oficial”, diz Arnaldo Mazzei Nogueira, professor doutor da FEA-USP e PUC-SP.
Pizza
No Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal, os trabalhadores com carteira assinada já são maioria da população. Mas alguns Estados ainda mantém um baixo contingente de profissionais com carteira de trabalho. Um exemplo é o Maranhão, onde apenas 20,8% são registrados. “Ainda há um grande contingente de trabalhadores sem regulação e que pode estar trabalhando jornadas insuportáveis”, lembra Nogueira.
Mulheres
No Piauí, Paraíba e Ceará, a mão de obra feminina já supera a masculina. Os outros Estados do Nordeste também lideram a porcentagem de mulheres no mercado. “Isso ocorreu por causa da melhora econômica da região, urbanização e expansão dos serviços e comércio”, analisa Nogueira. O professor lembra que essa redução da diferença entre gêneros não reflete uma igualdade salarial. Levantamento de maio do ano passado, também do IBGE, mostrou que o salário médio da mulher é 20% menor que o do homem.
Qualificação
A formalização e o aumento da idade média dos trabalhadores deverá se acentuar nas próximas décadas. A perspectiva do País de se tornar a quinta maior economia do mundo até 2015 deverá exigir, sobretudo, um aumento da capacitação dos trabalhadores. “A palavra mais importante nos próximos anos será capacitação. O País vai precisar de pessoas capacitadas e qualificadas”, afirma Regina.
São Paulo pode até levar a fama, mas os paulistas não são os mais “workaholics” do País. Quem passa mais horas por dia trabalhando são os moradores do Centro-Oeste. Em Goiás, que ocupa o primeiro lugar, 32,6% das pessoas ocupadas trabalham mais de 45 horas por semana, ante 28,4% em São Paulo. Em segundo e terceiro lugar, estãoMato Grosso e Mato Grosso do Sul, respectivamente.
A explicação, segundo especialistas, é a alta concentração de pessoas trabalhando em zonas rurais e a falta de sindicatos fortes e estruturados, já que a formalização do mercado de trabalho nesses locais é mais recente.
As regiões Norte e Nordeste, por sua vez, são onde proporcionalmente há mais gente trabalhando menos de 14 horas por semana. O líder é o Maranhão, com 11,8% dos trabalhadores, seguido por Acre, Pará, Amazonas, Bahia e Pernambuco. Os motivos são o trabalho temporário em atividades extrativistas ou na agricultura de subsistência.
Outra prova da conexão entre formalização do mercado e jornada semanal média são os Estados que mais têm trabalhadores que passam de 40h a 44h semanais no serviço – a conexão entre os dois rankings é nítida. São Paulo e Santa Catarina, líderes na proporção de carteira assinada, ficam em 4º e 1º lugar na lista de Estados com mais gente trabalhando essa quantidade de horas por semana.