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Acordos obtidos por sindicatos são menos generosos que os de 2010, mas continuam alimentando pressão sobre preços
Desaceleração e inflação mais alta dificultam negociações, mas economistas veem risco para aposta do BC

ÉRICA FRAGA
MARIANA CARNEIRO
MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

Sindicatos que renegociaram os salários dos trabalhadores que representam nos últimos dois meses conquistaram aumentos acima da inflação, realimentando pressões sobre os preços num momento em que o Banco Central decidiu reduzir os juros, principal instrumento de que dispõe para conter a inflação.

Mas os aumentos foram menos generosos do que os obtidos em 2010 e do que os alcançados por sindicatos que negociaram no primeiro semestre, num sinal de que a inflação mais alta e o esfriamento da economia tornaram mais difíceis as discussões.
Levantamento da Folha com 18 sindicatos com data-base no segundo semestre e que já concluíram a negociação revela que todos conseguiram reajustes reais (acima da inflação).

Mas os aumentos alcançados pela maioria foram inferiores aos de 2010. No primeiro semestre, a maioria dos 87 sindicatos ouvidos pela Folha obteve ganhos reais superiores aos do ano anterior.

“O mais significativo é que os sindicatos continuam com reajustes superiores à inflação. A magnitude dos aumentos é menor porque reflete expectativas de menor crescimento”, diz o economista Aloisio Buoro, do Insper.

Mas concessões feitas por importantes empresas em negociações recentes confirmam que o aquecimento do mercado de trabalho, que aumenta a demanda por mão de obra, tem reforçado o poder de barganha.

A mineradora Vale vai pagar quase dois salários extras para os trabalhadores que se comprometerem a ficar na empresa nos próximos dois anos. No Paraná, os metalúrgicos da Renault garantiram reajuste real até 2013.

Segundo economistas, esses acordos representam risco para a aposta do BC de que a inflação recuará em 2012, mesmo com juros em queda.

O órgão reduziu a Selic de 12,5% para 12% na semana passada. Críticos argumentam que a pressão inflacionária segue forte, entre outros fatores, porque o mercado de trabalho está aquecido.

“Nos próximos anos o crescimento se manterá próximo de 4% e a economia perto do pleno emprego”, diz Sérgio Vale, da consultoria MB Associados. “O resultado são salários reais crescendo com ameaça para a inflação.”

As obras para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas, além do aumento do salário mínimo definido para o ano que vem, reforçam o poder de compra dos trabalhadores.

O economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC, pondera que os reajustes estão “descolados” da previsão de crise externa. E, por isso, vão perder fôlego.

Pelo menos na indústria alguns sinais começam a aparecer. Volkswagen e Ford decidiram parar a produção por alguns dias em setembro por excesso de estoques.