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Rodoviários ameaçam cruzar os braços novamente ao verificarem que o reajuste de 9% estabelecido em acordo não estava no contracheque. Mas recuam da decisão após promessa patronal de pagar a diferença até quinta-feira

Rodoviários e empresários tiveram mais um impasse ontem. A primeira categoria ameaçou paralisar as atividades, a partir de hoje, porque os donos de empresas de ônibus não depositaram o salário com o aumento de 9%, conforme ficou estabelecido no acordo entre os dois grupos no último dia 24 na residência do governador Rogério Rosso. Mas, no início da noite, o sindicato patronal se comprometeu a depositar a diferença até quinta-feira. A iminência de uma greve, no entanto, não está totalmente afastada, pois o sindicato patronal reclama que a receita com as passagens encolherá caso o governo sancione a nova lei do Passe Livre(1) que foi aprovada pela Câmara Legislativa. Assim, para manter o compromisso, seria necessário um reajuste de tarifa.

O cobrador Carlos Ribeiro, 39 anos, tomou um susto quando abriu o contracheque e viu que o salário era o mesmo do mês passado, ou seja, sem o reajuste prometido. Assim como ele, outros nove mil rodoviários também ficaram revoltados com o descumprimento do acordo que pôs fim à greve de três dias e meio realizada no mês passado. Além disso, o auxílio-refeição também foi creditado com o valor antigo.

Reunião
Até o fim da tarde, a greve era certa. A paralisação deveria começar por volta das 7h de hoje. Somente no início da noite é que os patrões resolveram dar uma satisfação aos trabalhadores. Para isso, eles convocaram uma reunião com o presidente do Sindicatos dos Rodoviários, João Osório. Os patrões explicaram que o aumento só não saiu porque a folha de pagamento já havia sido rodada. Mas garantiu que resolveria o problema o mais rápido possível.

A solução apresentada pelo sindicato patronal foi de pagar, em uma folha suplementar, a diferença do reajuste acertado na convenção coletiva. O repasse será feito na quinta-feira. Além da diferença, correspondente a 9% sobre os salários, os empresários também depositariam o valor do reajuste sobre o auxílio-refeição. “A greve está suspensa. Mas esperamos que eles (empresários) cumpram esse novo acordo. Senão, a greve será certa”, avisou Osório.

O sindicalista antecipou ao Correio, porém, que o impasse deverá ocorrer nos próximos meses. “Os patrões alegaram que não terão como arcar com o reajuste nos próximos meses caso as novas regras do Passe Livre entrem em vigor. Se isso ocorrer, vamos ter paralisação novamente”, ameaçou Osório. Por meio de sua assessoria, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo do Distrito Federal informou que não iria comentar a informação dada por João Osório.

Auditoria
Em nota, o governador Rogério Rosso informou que esteve ontem em São Paulo, em reunião com técnicos do SPTrans para colher, na maior empresa pública de transporte coletivo do Brasil, dados que auxiliem o Grupo Gestor de Transportes na conclusão da auditoria que avalia as planilhas do sistema enviadas ao governo pelos empresários do setor. Durante a reunião, o GDF conheceu o modelo adotado no transporte público da cidade de São Paulo e teve acesso a informações gerenciais e índices técnicos e econômicos relativos ao setor. O GDF ressalta que o prazo combinado na reunião que pôs fim à greve dos rodoviários para a conclusão da auditoria do governo é de 30 dias e se encerra no dia 24 deste mês.

1 – Falta a sanção
A Câmara aprovou, no fim de junho, o projeto substitutivo que altera a nova proposta do Governo do Distrito Federal para regulamentar o Passe Livre. A nova regra aumenta para dois terços a contribuição dos empresários com a gratuidade do transporte público concedida a estudantes. A contrapartida do governo fica reduzida para um terço. A nova proposta dependerá, no entanto, da sanção do governador Rogério Rosso, que admitiu a possibilidade de reajuste das passagens caso aprove a emenda na lei do Passe Livre.

Entenda o caso
Nas mãos do governo

O acordo coletivo dos rodoviários, neste ano, foi aprovado depois de três dias e meio de greve e muitas rodadas de negociação. Do lado patronal, havia muita queixa de que a receita ficaria prejudicada com o aumento. Então, somente com a intervenção do governo é que os empresários aceitaram reajustar o salário do trabalhadores. Mas não em 20%. Em troca de pagar os 9% aos rodoviários, eles receberam a garantia de que Rogério Rosso analisaria a planilha de custos das empresas com a manutenção do serviço público.

Na ocasião, Rosso pediu o prazo de um mês para dizer se o aumento nas tarifas, conforme reivindica os patrões, é necessário. O governador dará uma resposta até o dia 24 deste mês ao sindicato das empresas de ônibus. No caso, quem sairá prejudicada é a população. O aumento sugerido pelos donos de empresa pode ultrapassar 40%. O governador disse não querer reajustar o valor das tarifas. Mas os empresários admitem que, se não houver uma compensação, ficará difícil manter o acordo coletivo. O presidente do Sindicato dos Rodoviários, João Osório, disse que se isso ocorrer, a greve, que deixou meio milhão de brasilienses sem ônibus, pode ocorrer novamente.