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Vigilantes e patrões não chegam a acordo e mantêm clientes na dependência de caixas eletrônicos e lotéricas. Nova audiência está marcada para hoje

Os vigilantes patrimoniais decidiram ontem manter a greve que afeta bancos em todo o estado. Como a lei proíbe o funcionamento das agências bancárias sem a presença de pelo menos dois vigilantes, os serviços ficam restritos aos terminais de autoatendimento.

A audiência entre o Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região e o Sindicato das Empresas de Segurança e Vigilância do Estado, mediada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), terminou sem acordo.

Na reunião, os trabalhadores reivindicaram aumento real (acima da inflação) de 5% para o salário-base (hoje em R$ 996), reajuste do vale-alimentação de R$ 12 para R$ 15 e um aumento de 15% no adicional de risco (atualmente em R$ 100). Os patrões, por sua vez, ofereceram o repasse da inflação, tanto no salário como nos benefícios. O procurador Alberto Emiliano Neto ainda fez uma terceira proposta, intermediária. No entanto, o sindicato patronal manteve sua proposta, rejeitada pelos vigilantes em assembleia. Uma segunda audiência no MPT está marcada para as 13 horas de hoje.

A categoria dos vigilantes é composta pelos trabalhadores de transporte de valores, escolta armada e vigilância patrimonial. Apenas os últimos estão em greve. Hoje, o salário-base é de R$ 996. Com todos os benefícios e dependendo da escala de trabalho, varia de R$ 1.214,83 a R$ 2.835,05.

Adesão

Segundo o Sindicato dos Vigilantes, cerca de 70% da categoria aderiu à greve no primeiro dia. Em agências do Centro de Curitiba, como as do Santander, os serviços eram feitos normalmente até a chegada de manifestantes, quando alguns vigilantes decidiram interromper o serviço. No total, 22,6 mil vigilantes trabalham no estado, 8 mil em Curitiba e região.

O Sindicato dos Bancários, categoria que não está em greve, fiscalizou os bancos durante o dia para impedir que agências funcionassem sem a segurança necessária. Mesmo assim, algumas agências fizeram pequenos atendimentos. Pela manhã, uma gerente do Banco do Brasil atendia clientes de pessoa jurídica pela abertura do porta-objetos, ao lado da porta-giratória. Foi o caso do empresário Marcos Henrique de Souza, 32 anos, impedido de entrar no banco. “Preciso usar meu cartão, mas ele está bloqueado”, disse.

Transtornos

O começo da paralisação da categoria coincide com o período de início de mês, quando as agências costumam ficar mais movimentadas devido, principalmente, ao pagamento de auxílios do governo. Janaína Carneiro dos Santos, 19 anos, que mora em Almirante Taman­­daré, foi ao banco só para sacar a primeira parcela de seu auxílio-maternidade. Infor­­mada que só poderia receber em agências do Centro – na verdade, é possível sacar em todas –, ela pegou o ônibus com a mãe, que trazia o neto no colo. Quando chegou a Curitiba, en­­controu o banco fechado. “Não tenho cartão, só posso receber no caixa normal. Vim pra cá à toa”, lamentou.

Segundo um gerente, as agências do Centro são as primeiras a fechar, para a greve causar mais impacto. Mas a maioria dos serviços – como saques, extratos, pagamentos e depósitos – pode continuar sendo feita nos terminais. “Ficam impedidas algumas solicitações, como pagamentos do INSS sem cartão e saques e transferências de valores mais altos”, diz.

Nas agências centrais da Caixa Econômica, não havia filas para o autoatendimento. Entretanto, nem todos os serviços estavam disponíveis, caso dos depósitos. Nas filiais do Banco do Brasil, o tempo de espera para usar um terminal chegava a 15 minutos. Alguns clientes chegaram a protestar. Nas lotéricas do Centro, o movimento não chegou a crescer significativamente.

Em nota, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) se posicionou contra a greve. “É lamentável que a sociedade fique refém dessa estratégia, que prejudica o atendimento ao público.”

Propostas

Hoje o salário-base dos vigilantes é de R$ 996. Eles também ganham um adicional de risco de R$ 100 e um vale-alimentação de R$ 12. Confira abaixo o que pedem os grevistas e o que propõem os bancos e o Ministério Público do Trabalho (MPT).

Vigilantes

– Salário-base – Variação do INPC* mais 5%

– Adicional de risco – Reajuste de 15%

– Vale-alimentação – Aumento para R$ 15

Bancos

– Salário-base – Variação do INPC

– Adicional de risco – Variação do INPC

– Vale-alimentação – Variação do INPC

MPT

– Salário-base – Reajuste de 7%

– Adicional de risco – Reajuste de 13%

– Vale-alimentação – Aumento para R$ 14

*Acumulado em 12 meses até janeiro (dado ainda não divulgado pelo IBGE). Até dezembro, o acumulado estava em 6,47% – índice que, somado a um aumento de 5%, resultaria em reajuste nominal de 11,79%.

Fonte: MPT

Adesão chega a 80% em cidades do interior

Diante da paralisação dos vigilantes, muitos bancos não funcionaram ontem no interior do Paraná. Em Maringá, 35 das 64 agências bancárias estavam fechadas na tarde de ontem. A expectativa era de que todas paralisassem suas atividades até hoje. “Sem os vigilantes não temos condições de trabalhar. Precisamos de, no mínimo, dois trabalhando para abrir uma agência pequena. Se for maior, [precisamos de] mais vigilantes. Nesse caso, pelo que sei, eles realmente não vão trabalhar, e as agências de Maringá não vão abrir”, disse o presidente do Sindicato dos Bancários de Maringá, Claudecir de Oliveira Souza.

Em Londrina, Foz do Iguaçu, Ponta Grossa, Cascavel, Guara­­pu­­ava e Paranavaí, mais de 80% das agências também não abriram para atendimento ontem. Em Umuarama, a adesão foi total. Na opinião da presidente do Sindicato dos Bancários de Foz, Cristina Delgado, a paralisação dos vigilantes levanta uma necessidade. “Nosso desejo é de que se negocie a unificação da data base dos vigilantes e dos bancários. Dessa forma, teríamos apenas um movimento e uma paralisação, diminuindo o prejuízo para os clientes”, destacou.

Em algumas cidades como Ponta Grossa e Guarapuava, o Sindicato dos Bancários também estava identificando as agências abertas, mas que não contavam com o trabalho dos vigilantes, infringindo a lei. Nas duas cidades, o sindicato informou ter problemas com o Bradesco.

“Encaminhamos a denúncia para a Polícia Federal. É uma irresponsabilidade da gerência dos bancos, que colocam em risco a segurança dos funcionários e dos clientes”, criticou o presidente do sindicato de Guarapu­­ava, Edílson Obal. A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do banco, mas o Bradesco não se posicionou sobre o assunto até o fechamento desta edição.

Marcus Ayres, da Gazeta Maringá

Fonte: Gazeta do Povo