O governo do presidente Lula avalia lançar um programa emergencial para os setores mais prejudicados pelas novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. Segundo reportagem do jornal O Globo, a proposta é inspirada no “Apoio Financeiro RS”, criado após as enchentes no Rio Grande do Sul, que repassava diretamente ao trabalhador duas parcelas equivalentes a um salário mínimo (R$ 1.518). O modelo exige que empresas complementem os salários e mantenham os empregos pelo dobro do período do auxílio.
A iniciativa mira preservar o poder aquisitivo de trabalhadores de baixa renda e abrange inclusive estagiários, aprendizes e pescadores artesanais.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira (1) que o governo ainda avalia como será o plano de contingência para setores afetados pela medida, que poderão ser anunciadas na semana que vem pelo presidente Lula.
“Estamos encaminhando junto com (o vice-presidente Geraldo) Alckmin as primeiras medidas formuladas, e a partir da semana que vem, o presidente Lula já vai poder anunciar as medidas de proteção ao agro e indústria. As medidas já são conhecidas, estamos calibrando junto com sindicatos patronais, de trabalhadores, Casa Civil. Estamos calibrando os números do quanto vai ser necessário usar de verba”, disse o ministro da Fazenda.
O ministro aproveitou a ocasião para convidar governadores interessados em colaborar com o governo federal a irem até Brasília. A proposta é firmar parcerias voltadas para o fortalecimento de empresas locais, da agricultura e da geração de empregos — deixando de lado disputas ideológicas ou ganhos políticos.
Haddad citou o governador do Ceará, Elmano de Freitas, como o primeiro a atender ao chamado. Ele deve se reunir com o ministro ainda nesta sexta-feira para tratar do financiamento da merenda escolar no estado. Segundo Haddad, o governador também pretende apresentar uma sugestão de alteração legislativa que agilizaria o processo de compra de alimentos com respaldo jurídico.
O pacote de tarifas anunciado pelo presidente Donald Trump na última quarta-feira (30) adiciona uma alíquota extra de 40% sobre produtos brasileiros, elevando a carga total para 50%. Embora 694 produtos — como suco de laranja, aeronaves e itens do setor de energia — tenham sido poupados, segmentos como frutas, carnes, pescados, calçados e têxteis devem sofrer impacto direto, comprometendo exportações e empregos.
Tarifas: condições para adesão e contrapartidas
Para participar do programa, segundo reportagem de O Globo, as empresas precisarão comprovar queda no faturamento como resultado direto das tarifas. A adesão será voluntária, mas condicionada à manutenção do vínculo empregatício por quatro meses. A expectativa é de que o custo da medida seja considerado fora do arcabouço fiscal para não prejudicar as metas fiscais, dado o caráter extraordinário do cenário.
Além do subsídio salarial, o governo também estuda:
- Suspensão temporária do recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço)
- Possibilidade de adoção de lay-off com uso do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador)
- Concessão de linhas de crédito com juros reduzidos e carência ampliada, com garantia via Fundo Garantidor de Operações (FGO)
Essas ações seguem a mesma lógica dos mecanismos utilizados para socorrer empresas no Rio Grande do Sul em 2024.
Varejo pressiona por compensações
O setor varejista, ainda que indiretamente afetado, também cobra ações do governo. A Abras (Associação Brasileira de Supermercados), que lidera o Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento, apresentou um estudo elaborado pela RC Consultores com sugestões como:
- Suspensão da elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras)
- Flexibilização da jornada e incentivo à contratação de idosos
- Metas para o emprego, à semelhança das metas de inflação
- Antecipação da isenção da cesta básica (prevista na reforma tributária só para 2027)
- Redução da taxa Selic
Segundo Paulo Rabello de Castro, responsável pelo estudo, o impacto será sentido especialmente no mercado interno, já que o redirecionamento de exportações pode desorganizar cadeias produtivas domésticas.
Cenário projetado: impacto atenuado em 30 meses
O levantamento da RC Consultores simula um horizonte de 30 meses, com impacto progressivamente menor conforme empresas buscam novos mercados e o governo negocia reduções tarifárias.
Apesar das exceções anunciadas por Trump, o estudo prevê que o setor ainda enfrentará perdas significativas no curto prazo, com reorganização mais concreta a partir de 2026.
ICL NOTÍCIAS
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