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Visando compensar a precariedade do ensino básico e a baixa oferta de cursos profissionalizantes, um número cada vez maior de companhias está bancando a formação de seus funcionários, numa tentativa de manter a produtividade. Para os empregados, o estudo é a chance de mudar de patamar no mercado de trabalho
 
O mestre de obras José Tadeu Cruz Vieira sempre valorizou os livros. Aos 48 anos, apoiado pela empresa, está cursando engenharia (Monique Renne/CB/D.A Press)
 
O mestre de obras José Tadeu Cruz Vieira sempre valorizou os livros. Aos 48 anos, apoiado pela empresa, está cursando engenharia
O piauiense José Tadeu Cruz Vieira, 48 anos, não é homem de meias palavras. Muito menos se rende às dificuldades que, ao longo da vida, insistem em testar sua capacidade de reação. Mas a força do mestre de obras que comanda uma equipe de mais de 80 pessoas empregadas pela incorporadora Brookfield não resulta apenas da boa criação que o enche de orgulho. Ela se agiganta a cada dia que se senta no banco da universidade na qual está estudando para se tornar um engenheiro. “Não há um só dia que não pense: meu Deus, muito obrigado por me dar a oportunidade de ser alguém na vida”, diz.

José sabe muito bem o valor das suas palavras. Nascido na cidade de Castelo do Pará, onde fez o ensino fundamental, ele se mudou para Brasília em 1989, cheio de esperança. Consciente da deficiência na sua formação escolar, buscou, na construção civil, agarrar uma chance de fazer uma revolução em seu futuro. Logo depois de contratado como pedreiro, matriculou-se em uma escola de olho no diploma de ensino médio. Sabia que o desgaste das atividades nos canteiros de obras não o afastaria dos livros.

“Concluí o ensino médio, mas não me acomodei. Fiz vários cursos técnicos, de especialização em edificação, de eletricista. Isso me permitiu galgar várias posições nas empresas em que trabalhei”, afirma. Agora, com as filhas do primeiro casamento formadas ou na universidade e os enteados do segundo indo na mesma direção, decidiu que era hora de ter o sonhado diploma de curso superior e aproveitou o fato de a empresa bancar até 70% da mensalidade da faculdade para fazer engenharia.

José tem a clara noção de que, ao se formar, mudará de patamar no mercado. Hoje, um mestre de obras ganha entre R$ 3,5 e R$ 6 mil mensais. Um engenheiro pode embolsar R$ 12 mil. “Sempre digo aos que trabalham comigo: estudem. É o único caminho para melhorar de vida”, ressalta. No quarto ano da faculdade, ele já planeja a pós-graduação.

Alerta
Para um Brasil que caminha em direção ao pleno emprego — o índice de desocupação está apontando para 5%, mesmo com a gravidade da crise mundial —, o exemplo do mestre de obras é alentador. Sem conhecimento e qualificação, o país corre o risco de sucumbir. Se em setores básicos já falta mão de obra especializada, em segmentos mais sofisticados, especialmente o de alta tecnologia, o alerta já foi ligado. A situação só não é de calamidade porque muitas empresas decidiram não esperar pelo Estado e estão capacitando profissionais.

O assustador quadro atual, dizem os especialistas, deriva da precariedade do ensino básico e da baixa oferta de cursos profissionalizantes. “Felizmente, devido à ação das empresas, a oferta de trabalhadores qualificados melhorou em 2011. Mas ainda está muito difícil encontrar gente capacitada no mercado”, destaca Lygia Villar, diretora de Recursos Humanos da Brookfield. Além de bancar uma parte dos custos das faculdades de seus empregados, a companhia criou a sua Universidade Corporativa. “Sai mais barato formar profissionais dentro da empresa, pois diminuímos os custos com seleção e contratação, além da certeza de que teremos o colaborador com o conhecimento de que precisamos”, explica.

Cansada de disputar com o mercado financeiro os engenheiros aeronáuticos saídos das principais universidades do país, a fabricante de helicópteros Helibras decidiu formar seu pessoal e fechou uma parceria com a Universidade Federal de Itajubá, sul de Minas Gerais. Os profissionais ali preparados têm a oportunidade de estagiar na sede da Eurocopter, sócia da companhia, na França. No ano passado, em parceria com a prefeitura de Itajubá, abriu um curso gratuito de mecânico de manutenção aeronáutica. Recebeu mais de mil inscrições, das quais 500 foram aprovadas.

Mesmo com tais iniciativas, a escassez de mão de obra qualificada já impacta os resultados do setor produtivo. Segundo de José Pastore, professor de Relações do Trabalho da Universidade de São Paulo (USP), isso acontece quando as empresas passam a pagar salários mais altos, sem que a produtividade dos empregados acompanhe. Ele ressalta que, em 2010, a lucratividade média das 100 maiores empresas brasileiras, excluídas a Vale e a Petrobras, caiu 1,5%. “Na prática, isso significa menos investimentos, menos crescimento para o país. As companhias que não lucram, não investem”, sentencia.

Garantindo o futuro

Para garantir a qualificação desejada de seus funcionários, o grupo Vale criou, em 2003, um departamento de educação, o Valer, responsável por administrar desde treinamentos básicos a bancar cursos de pós-graduação em renomadas universidades estrangeiras. Desde então, mais de 80 mil pessoas, no Brasil e no exterior, passaram pelo programa. “A ideia é que cada um possa se desenvolver ao longo da carreira e assumir novos desafios. Dessa maneira, mantemos o padrão das operações e preparamos sucessores dentro de casa”, diz Carla Gama, diretora de educação da Vale. Ela lembra que a mineração requer mão de obra qualificada, de maquinistas de trem a engenheiros de portos, que não são facilmente encontrados no mercado. O grupo tem investimentos programados de US$ 21,4 bilhões em vários projetos, para os quais pretende contratar 7,1 mil profissionais, sendo 4,5 mil no Brasil.