Centenas de trabalhadores e dirigentes das principais centrais sindicais — Força Sindical, CUT, UGT, CTB, CSB e Nova Central — ocuparam nesta terça-feira (4) a frente da sede do Banco Central, na Avenida Paulista, em São Paulo. O protesto teve como principal bandeira a redução imediata da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 15% ao ano — o maior patamar desde 2006.
O ato ocorreu na véspera da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), responsável por definir a nova taxa Selic. As entidades apontam que o próprio Boletim Focus, do Banco Central, vem reconhecendo o controle da inflação, o que torna injustificável manter a taxa nesse nível. Segundo os organizadores, as taxas elevadas desestimulam o crédito, o consumo e os investimentos, comprometendo a geração de empregos e a renda da população.
As centrais lembraram que o Boletim Focus, baseado nas expectativas de agentes do mercado financeiro, divulgado semanalmente pelo próprio Banco Central, vem registrando a queda e o controle da inflação, reforçando que não há justificativa técnica para manter a Selic em 15% ao ano.
“Juros altos favorecem especuladores”, alerta CTB

Para Ronaldo Leite, secretário-geral da CTB, os juros elevados beneficiam apenas o capital financeiro.
“O movimento sindical representa quem produz riqueza. O Brasil precisa de crédito acessível e política voltada ao desenvolvimento, com geração de empregos e soberania nacional”, afirmou.
O vice-presidente da CTB, René Vicente, foi enfático: “Chega de juros altos que travam o desenvolvimento do Brasil! Só com juros justos teremos crescimento, renda e oportunidades.
Durante o ato, René também denunciou o impacto social da política monetária.
“Vivemos em um país onde 53% da riqueza está nas mãos de 1% da população. A política de juros altos aprofunda essa desigualdade, favorece a especulação e penaliza os trabalhadores”, disse.
Em seu discurso, René destacou a relação entre a política de juros e a concentração de riqueza.
“Vivemos num país onde 53% da riqueza está nas mãos de 1% da população. Essa política de juros altos favorece a especulação financeira e penaliza a maioria que luta para sobreviver”, disse.
Ele também criticou como “uma falácia” a chamada “autonomia” do Banco Central: “O BC está ligado à Faria Lima e à especulação financeira. Com a Selic a 15%, nem o empresário investe no setor produtivo. Quarenta por cento da arrecadação nacional vai para pagar juros da dívida pública a banqueiros.”
Segundo ele, 40% da arrecadação nacional é destinada ao pagamento de juros da dívida pública — um modelo que “enriquece banqueiros e empobrece o povo”.
Sindicalistas defendem crédito e indústria
O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, destacou que juros menores fortalecem o consumo e a indústria.
“Reduzir os juros significa ampliar oportunidades e garantir mais renda. O trabalhador quer viver com dignidade, não sobreviver endividado”, afirmou.
O secretário-geral da central, João Carlos Gonçalves (Juruna), criticou a política monetária que “estrangula o povo” e defendeu um projeto de crescimento com inclusão e valorização dos salários.
“Por que o financiamento é tão caro?”, questiona CUT

A vice-presidenta da CUT e presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, questionou os efeitos da Selic sobre o custo do crédito.
“Por que um trabalhador paga dois ou três carros quando financia um zero quilômetro? É por causa dessa política de juros altos que beneficia o sistema financeiro”, disse.
Ela lembrou que, apesar do crescimento da economia e do emprego, o Banco Central mantém a taxa em nível incompatível com a realidade do país.
“Falta crédito, falta dignidade”

A dirigente da Força Sindical Valclécia Trindade ressaltou que os efeitos da política de juros chegam às periferias.
“Quando falta crédito, falta comida e dignidade. Queremos uma economia que valorize a vida e coloque o bem-estar social acima dos lucros financeiros”, afirmou.
Pela UGT-SP, Josimar Andrade completou: “Não há país forte com juros tão altos. Juros baixos significam oportunidade, prosperidade e esperança. Só haverá desenvolvimento real com emprego, salários valorizados e crédito acessível para quem move este país.”
