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A mudança cultural do papel da mulher na sociedade está refletindo na saúde das brasileiras. Entre 2001 e 2009, a proporção de famílias chefiadas pelo sexo feminino passou de 27% para 35% e esse aumento de responsabilidade tem acarretado em mais problemas de saúde a elas. Pesquisa divulgada nesta semana pelo Ministério da Saúde mostra que as mulheres estão se cuidando menos. Além de estarem mais obesas, não conseguiram diminuir o tabagismo e estão bebendo mais.

A explicação para esse fenômeno está ligada à entrada feminina no mercado de trabalho e à ocupação de cargos de chefia por elas, além da múltipla rotina que envolve casa, filhos e responsabilidades profissionais. Hoje, quase 22 milhões de famílias têm a mulher como chefe do lar. Para especialistas, essa alteração de papéis ocasionou a incorporação de alguns maus-hábitos, antes restritos aos homens.

A mudança fez com que certos comportamentos deixassem de ficar limitados ao espaço privado e passassem a ocorrer também em público, como o uso de álcool e do cigarro. “Há mulheres hoje com 50 anos e dependentes do álcool, que antes bebiam escondidas em casa”, diz a psicóloga Ana Beatriz Pedriali Guimarães, autora do livro Um Passado que Vive – Transmissão Familiar do Alcoolismo Feminino.

Apesar da tendência negativa e das primeiras consequências desse novo cenário, as mulheres ainda cuidam mais da saúde do que os homens. Entretanto, especialistas alertam que, para esse panorama ruim não progredir, é preciso que as políticas públicas acompanhem as mu­­danças sociais. Em Curitiba, por exemplo, foi criado o programa Mulher Curitibana, que além de atuar no combate a doenças específicas do sexo feminino também foca em questões como tabagismo, alcoolismo e boa alimentação.

Preocupação de todos

A secretária municipal de saúde de Curitiba, Eliane Chomatas, afirma que os gestores públicos não podem desconsiderar a alteração do papel social da mulher. Segun­­do ela, há maior participação no mercado de trabalho, mais estresse, alimentação fora do domicílio e tendência ao sedentarismo. “São fatores de risco que não só a área da Saúde tem de observar.”

O médico Marcelo Guimarães, do setor de obstetrícia do Hospital Evangélico, diz que, apesar das transformações, pacientes do sexo feminino ainda são maioria nos consultórios. Para ele, as políticas públicas precisam se atualizar e mudar a abordagem. “Há questões como o adiamento da maternidade em função das ocupações no mercado de trabalho que ainda não são consideradas.”

As mulheres contam ainda com um fator de estresse a mais: o preconceito no mercado de trabalho. O economista José Guilherme Silva Vieira afirma que elas ainda são discriminadas e levadas a uma concorrência desleal. Enquanto os homens em cargos de chefia raramente têm obrigações com o lar, as executivas são cobradas pela família e pela sociedade. “Conciliar tudo isso pede um esforço sobre-humano.”

Dados

Entre 2006 e 2010, o porcentual de mulheres fumantes se manteve o mesmo, ficando em 12,7%. Para os homens a queda foi de 11%. O consumo excessivo de álcool também aumentou e hoje 10% das entrevistadas admitem exagerar nesse quesito. Para as mulheres, é considerado consumo excessivo a ingestão de mais de quatro doses. Entre os homens, são cinco doses.

As mulheres também estão um ponto porcentual mais obesas que os homens, com 15,5%. É considerado obeso quem tem Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30. Hoje, metade da população brasileira está acima do peso, com IMC entre 25 e 29.

Fonte: Gazeta do Povo