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O presidente da Vale, Murilo Ferreira, vai se reunir amanhã com líderes de 14 sindicatos que representam os 60 mil trabalhadores da empresa no país. O encontro, inédito, marca uma mudança na orientação na área de recursos humanos em um esforço da companhia para reter funcionários, muitos dos quais têm recebido convites de concorrentes. A reunião não é o único gesto nesse sentido. A empresa fechou um acordo coletivo com os trabalhadores que está sendo considerado pelos sindicalistas o melhor dos últimos 20 anos, prevendo um prêmio de 1,7 salário aos empregados que continuarem na empresa nos próximos dois anos

A Vale, na gestão de Murilo Ferreira, que assumiu o comando da empresa em maio, adotou uma política agressiva de remuneração para reter empregados assediados por concorrentes. Este mês, a companhia fechou um acordo coletivo com os trabalhadores considerado o melhor dos últimos 20 anos por representantes do movimento sindical ligado à mineradora de ferro e metais não ferrosos. O acordo prevê um pagamento especial – uma espécie de prêmio – de 1,7 salário para os empregados que continuarem trabalhando na empresa nos próximos dois anos.

Amanhã, Ferreira vai se reunir com os dirigentes dos 14 sindicatos que representam os 60 mil trabalhadores da Vale no Brasil. Trata-se de encontro inédito na história da empresa.

Para Paulo Soares, do sindicato Metabase de Itabira, porém, a expectativa dos empregados da Vale é positiva em relação à reunião, pois o acordo recém assinado veio amenizar um clima de insatisfação que existia há algum tempo entre “o pessoal que trabalha no chão das minas da Vale”.

Soares não crê que a remuneração extra possa garantir que os trabalhadores fiquem na empresa, pois têm recebido ofertas maiores dos concorrentes. Para ele, o importante é a companhia ter um plano de carreira para os trabalhadores recuperarem as perdas salariais que tiveram nos últimos dez anos, o que rebaixou os ganhos dos empregados do setor extrativo. “Este é um ponto que queremos conversar com o presidente”, enfatizou.

O novo acordo coletivo dos próximos dois anos, prevê, além do prêmio para os empregados que se comprometerem com a empresa no longo prazo, um reajuste de 8,6% em 2011 e 8% em 2012, além de um abono de R$ 1.400 e um aumento no percentual pago no plano de saúde e no auxílio à educação, que subiu de 60% para 85%. Os termos negociados foram bem-recebidos por Raimundo Nonato Alves de Amorim, presidente do sindicato Metabase de Carajás, que reúne mais de 7 mil trabalhadores.

Amorim disse que na sua base sindical não há movimento de saída de empregados da Vale e relatou que os funcionários ficaram muito satisfeitos com o acordo coletivo acertado com a companhia, cujos termos, segundo informaram, tiveram aprovação de 100% da assembleia convocada pelo sindicato. O sindicalista ainda não conhece o novo presidente da Vale e disse que irá ao encontro para “conhecer o pensamento dele”.

A ideia de negociar com Ferreira um plano de carreira para garantir remunerações melhores para os funcionários da Vale é bem-vista entre os empregados. Antes do acordo coletivo recém-firmado, que entrará em vigor em novembro, o salário médio pago pela empresa para o setor extrativo era de R$ 1.770,00. Os mecânicos e eletricistas com mais de 25 anos de casa recebem o salário mais alto, de R$ 2.300. A menor remuneração é de R$ 1.070.

O movimento de saída de empregados da Vale para outras companhias, principalmente em Minas Gerais, é estimulado por propostas de ganhos melhores da parte de mineradoras novas e de outras compradas por siderúrgicas como a J Mendes, no início de 2008 pela Usiminas.

Dentre outras companhias que têm avançado sobre funcionários da Vale está a Namisa, controlada da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e a própria siderúrgica, para suas operações da mina Casa de Pedra. A empresa tem perdido quadro também para a Anglo American, mineradora sul-africana que deverá entrar em operação em 2013. Tais informações, porém, são desmentidas pela Vale.

Segundo a Vale, o índice de demissão voluntária na empresa é muito baixo, menos de 0,1% por mês do total de 60 mil empregados e permanece estável ao longo dos anos. O índice de 0,1% por mês de demissão voluntária equivale a saída de 53 pessoas por mês, contra 70 saídas mensais, segundo fontes do mercado de mineração.

A reunião convocada por Ferreira impressionou bem os sindicalistas, pois é a primeira vez que um presidente da Vale convida representantes dos trabalhadores para conversar. O executivo tem ido às minas, conversado com os empregados e “anotado”, segundo fontes. Recentes declarações do executivo tais como “o diálogo é o melhor caminho para o entendimento” e de que “antes de demitir tem que cortar jatinho” tem levado os trabalhadores a simpatizar com ele e a apostar numa melhora das relaçoes trabalhistas dentro da Vale.