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Em entrevista ao jornal conservador O Estado de S. Paulo, neste domingo (9),  o senador tucano Aécio Neves declarou com todas as letras e em tom arrogante que é candidato pelas forças reacionárias e neoliberais do país, por meio da legenda do PSDB, à Presidência da República em 2014. “Se esta for a vontade do partido, eu estarei pronto para disputar com qualquer candidato do campo do PT, seja Lula ou Dilma. Serão eleições com perfis diferentes e eu não temo nenhuma das duas [candidaturas]”.

Com a habitual hipocrisia, o ex-governador mineiro pondera que a decisão só deve ser tomada “no amanhecer de 2013″ e diz que a opção José Serra “terá de ser avaliada por seu capital eleitoral e experiência política”. Aécio cita também os governadores Geraldo Alckmin (SP), Marconi Perillo (GO) e Beto Richa (PR) como presidenciáveis. E aposta no papel do ex-presidente FHC na promoção da unidade do PSDB e na formulação do discurso: “O presidente FHC terá sempre um papel de orientador maior”.

Porta-voz da direita

Aécio faz muitos malabarismos, mas confrontado com questões de fundo, assume com nitidez pertencer ao campo da direita. É quando, por exemplo, ao examinar a hipótese de que a disputa seja com Lula, diz que “as diferenças ficarão ainda mais claras”, elencando a defesa de uma política externa “pragmática”, em oposição à que o ex-presidente praticou, qualificada pelo ex-governador como “atrasada, em favor dos amigos”.

Certamente, ao falar de pragmatismo nesse contexto, Aécio está defendendo a submissão ao imperialismo, o alinhamento às orientações dos Estados Unidos e União Europeia, simbolizado na diplomacia de pés descalços que enxovalhou as tradições soberanas e patrióticas do Itamaraty.

O senador mineiro admite as dificuldades políticas. Reconhece a fragilidade e a divisão que atualmente caracterizam o PSDB, que tem “dois anos para se viabilizar”. “Estamos procurando refundar o PSDB em seu discurso”. Num reconhecimento implícito de que os tucanos fracassaram no discurso e na prática, acrescenta: “O PSDB tem de se apresentar como partido que tem a nova agenda para o Brasil”. Acontece que é muito difícil apagar da memória do povo brasileiro o atraso a que relegaram o país durante os dois mandatos do seu guru, FHC. No rol das dificuldades a enfrentar, Aécio reconhece a decadência do DEM.

Por essas razões, defende “um leque cada vez mais amplo de alianças”, fazendo acenos para atrair o PSB, o PDT e o PP, que fizeram parte de seu governo em Minas, e o PSD do prefeito paulistano Gilberto Kassab, sobre o qual não tem “avaliação clara”, mas vê “com muita naturalidade que alguns setores do PSD tenham mais afinidade conosco do que com o PT”. Em outra passagem, porém, reconhece não ser fácil atrair para sua candidatura as forças que se encontram hoje no governo nacional.

Críticas surradas

Em contraste com a opinião generalizada das forças políticas progressistas, dos movimentos sociais e da população brasileira, Aécio faz tabula rasa dos dois mandatos do ex-presidente Lula, com críticas vulgares e surradas, em que revela uma concepção udenista. “O aparelhamento da máquina pública como jamais se viu antes neste país foi o mais grave deles [erros do governo Lula], porque abriu o caminho para a corrupção generalizada dentro do governo”.

Quando toca em questões essenciais, Aécio demonstra sua visão neoliberal e de direita: “E a outra grande lacuna que o governo passado deixou foi, em um ambiente de prosperidade econômica, altíssima popularidade pessoal do presidente e ampla base no Congresso, Lula não ter encaminhado nenhuma das reformas estruturantes que poderiam estar permitindo, aí sim, que o Brasil estivesse muito mais protegido contra eventuais crises”. O tema é palpitante, porquanto o Brasil precisa de fato de reformas estruturais. Ocorre que há diferenças antagônicas entre a concepção dos tucanos e a das forças progressistas sobre o seu caráter e alcance.

Os tucanos defendem reformas no campo tributário, previdenciário e do próprio Estado brasileiro, de cariz neoliberal e conservador, ao passo que as forças de esquerda propõem um conjunto de reformas – política, agrária, urbana, dos meios de comunicação, tributária, da saúde e educação – com a finalidade de completar o processo de democratização da sociedade, defendendo as conquistas sociais e a soberania nacional. No fundo, trata-se de uma luta de concepções em torno de um Novo Plano Nacional de Desenvolvimento, que para a esquerda deve incluir a valorização do trabalho e o progresso social. Isto se choca frontalmente com a visão entreguista, patrimonialista, neoliberal e antipopular dos tucanos e seus aliados.

Irritação com Dilma

Um tanto contrariado com os êxitos iniciais do governo Dilma, o senador mineiro acha que “é um equívoco falar em governo Dilma, porque esta administração está no nono ano. Não dá para ela se apropriar dos êxitos e se eximir dos equívocos do antecessor. Em termos de gestão pública, esses nove anos de PT foram um atraso. Nós andamos para trás”. (…) “E, infelizmente, a presidente caminha na mesma direção que caminhou o governo Lula”.

Certamente, Dilma foi eleita como governo de continuidade e de promoção de novos avanços em termos de políticas públicas para a universalização de direitos, desenvolvimento, defesa da soberania nacional e aprofundamento da democracia. É nisso que consistem seus méritos, esta será a base do avanço e do êxito do seu governo, com o apoio das forças progressistas e da população brasileira. Mas é precisamente isso que irrita Aécio et caterva.