Relatório sobre o sistema financeiro nacional conclui que situação dos bancos é sólida, mas aponta risco de elevação da taxa de inadimplência dos clientes.
O recrudescimento da crise financeira internacional pode provocar aumento do desemprego e queda da renda dos trabalhadores brasileiros, com reflexo direto no aumento da inadimplência perante os bancos. “O ambiente internacional está perigoso”, admitiu o diretor de Fiscalização do Banco Central, Anthero Meirelles, ontem, durante a apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira, documento divulgado a cada seis meses em que o BC avalia a capacidade do sistema financeiro em situações de estresse.
Embora garanta que os bancos foram aprovados em todos os testes, e que eles resistiriam mesmo num cenário de piora, o documento chama a atenção para os desafios que o sistema financeiro tem de enfrentar a curto e a médio prazos, dependendo dos desdobramentos do cenário financeiro internacional. A data-base do documento é junho e, na comparação com dezembro, o Índice de Basileia, que mede a relação entre empréstimos e patrimônio líquido, recuou de 17,1% para 16,9%, indicando ligeira piora na situação das instituições.
O índice de inadimplência, referente a operações com atrasos superiores a 90 dias, atingiu 5,2%, patamar mais elevado desde fevereiro de 2010, quando estava em 5,3%. Meirelles explicou que a alta é resultado das chamadas políticas macroprudenciais implementadas pelo BC para diminuir os riscos no sistema, como a redução do ritmo de crescimento do crédito para as empresas e as famílias.
O diretor do BC garantiu, no entanto, que o sistema financeiro nacional não tem “nenhuma disfuncionalidade”, apesar de admitir “problemas pontuais” em algumas instituições menores. Como mostrou reportagem publicada ontem pelo Correio, a autoridade monetária apertou a fiscalização do sistema, depois das quebras de instituições de pequeno porte, como Matone, Schain, Morada e Oboé, além do Banco Panamericano. Segundo Meirelles, elas representam apenas uma pequena parte do sistema.
O BC garante ainda que o setor financeiro está bem provisionado, ou seja, tem reservas em caixa suficientes para bancar o atraso dos clientes no pagamento das prestações. Mesmo tendo alterado a metodologia de apuração dos dados, os novos números do BC mostram que o comprometimento da renda familiar com o pagamento de dívidas está crescendo.
“A metodologia anterior deixava de fora as rendas financeiras, advindas de aplicações, como, por exemplo, a poupança”, disse Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC. Maciel explicou que as mudanças não visaram diminuir o nível de endividamento, mas aprimorar o sistema.
Além de incorporar os ganhos financeiros e fazer o cálculo com a renda mensal das famílias em substituição à renda mensal dos últimos 12 meses, a nova fórmula também passou a considerar a taxa de juros média dos últimos meses e não a última taxa do mês. O resultado de tudo isso é que o comprometimento da renda familiar caiu de 26,9% para 21,1% em julho deste ano.
A tendência de crescimento, no entanto, é a mesma. A série histórica revisada pelo BC mostra que o comprometimento da renda familiar com as dívidas, que estava em cerca de 16% em 2005, passou para 18% em julho de 2008, ultrapassando os 21% em julho passado. “Esse patamar não é assustador, mas temos que acompanhar de perto”, disse o diretor de Fiscalização, Anthero Meirelles.
TAXA PRIME BRASILEIRA
O Banco Central (BC) divulgou pela primeira vez, ontem, dados da Taxa Preferencial Brasileira (TPB), que reflete os custos de financiamento das grandes empresas com os bancos. De janeiro de 2005 a abril de 2011, a taxa preferencial média foi de 16,2% ao ano. O custo é o mais elevado de uma relação de seis países divulgada pelo BC, que inclui o grupo Bric (além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e os Estados Unidos. O BC destacou, contudo, que o spread médio da taxa nesse período, de 3,2 pontos percentuais, é similar aos dos demais mercados. A divulgação da TPB visa permitir a comparação da taxas com outros países e incentivaconcorrência no mercado de crédito.