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Enquanto 51,6% dos concorrentes dizem possuir ensino superior completo, apenas 4% dos 7,5 milhões de eleitores têm instrução semelhante

O perfil médio dos 974 candidatos paranaenses às eleições de outubro não reflete as principais características do eleitorado do estado. A maior parte dos candidatos é homem, concluiu o ensino superior, tem entre 45 e 59 anos e atua como empresário. Já o eleitorado é composto na sua maioria por mulheres e por pessoas nem que sequer concluíram a educação básica. A única característica do eleitor médio que bate com a do candidato médio é a faixa etária: 45 e 59 anos. Para especialistas, a diferença mostra que o estado é governado por uma elite que se perpetua no poder.

Enquanto 51,6% dos candidatos dizem possuir ensino superior completo, apenas 4% dos 7,5 milhões de eleitores têm instrução semelhante, de acordo com os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A maioria dos votantes não concluiu a educação básica – ensino fundamental e médio (55,5%).

Segundo Ricardo Oliveira, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná, as incongruências evidenciam uma tendência na política local. “Se a análise dos candidatos mostra este quadro, quando se faz a análise dos eleitos percebe-se que se trata de um grupo restrito, que detém poder econômico e capital político. Cria-se uma casta hereditária. Quando há trocas é para entrarem os ‘juniores’”, explica.

Oliveira afirma que a disparidade se acentua depois das eleições, quando a renovação é praticamente nula. A análise do perfil dos candidatos demonstra que muitos nomes já cumpriram mandatos no poder público. Entre as seis profissões mais citadas pelos candidatos estão a de deputado (em terceiro lugar, com 6,1%) e a de vereador (em sexto lugar, com 4,6%). As ocupações mais comuns são a de empresário (12,5%) e a intitulada como “outros” (8,8%) nos registros do TSE.

Já as mulheres, que são maioria do eleitorado, representam apenas 24,7% dos candidatos. O índice está abaixo do que exige a legislação eleitoral, que determina que cada partido ou coligação deve preencher no mínimo 30% e no máximo 70% das vagas da chapa com candidaturas de cada sexo.

A pequena participação feminina na política local é um fator que “preocupa”, segundo o cientista político Carlos Strapazzon. Para ele, a democracia representativa brasileira não possui mecanismos de inclusão, ao contrário das diretrizes da Constituição Federal. “O sistema representativo precisa ser democrático e tem o desafio da inclusão. As ditaduras também têm sistemas representativos, com critérios obtusos.”

Segundo Strapazzon, em alguns países da Europa e das Américas Latina e Central foram feitas alterações para garantir cadeiras legislativas às mulheres, enquanto no Brasil tudo parece ser feito para evitar que apareçam mulheres dispostas a concorrer a cargos eletivos, diz o cientista político. “É inadmissível a quantidade de barreiras que a estrutura eleitoral e política oferece às mulheres, a começar pela barreira cultural da jornada tripla [dificuldade em conciliar a vida profissional, familiar e a campanha].” De acordo com ele, a questão de gênero está mais mal resolvida na política do que em qualquer outro setor da sociedade.

Um indicativo de que a realidade começa a mudar é que a participação feminina nestas eleições para a Câmara dos De­­­putados e Assembleia Legis­­lativa mais que dobrou em relação a 2006 no Paraná.