por NCSTPR | 30/06/25 | Ultimas Notícias
O deputado Rogério Correia (PT-MG), presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, afirmou nesta sexta-feira (27), em entrevista ao ICL Notícias 1ª edição, que a crise gerada em torno do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) é uma reação das elites econômicas contra o projeto do governo Lula de fazer os mais ricos contribuírem com o ajuste fiscal.
“Estamos querendo tributar o andar de cima. Esse IOF é isso. E aí virou essa crise no Congresso porque lá nós temos 72% de deputados e senadores que são grandes empresários ou grandes fazendeiros”, disse o parlamentar. “A crise é a crise da defesa do sistema das elites dominantes no Brasil”, completou.
Segundo ele, o Congresso tenta impedir o governo de cumprir o arcabouço fiscal e manter programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida, o Bolsa Família, e investimentos em saúde e educação.
Nesta semana, o Congresso, sob a liderança do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do presidente do Senado, David Alcolumbre (União Brasil-AP), aprovaram um PDL que derruba a medida do governo. Contudo, juristas ouvidos pelo ICL Notícias foram unânimes ao apontar que o Projeto de Decreto Legislativo, usado pela Câmara para anular o decreto presidencial, é inconstitucional. Para eles, houve usurpação de competência, com consequências graves para o princípio da separação entre os Poderes.
Crise do IOF: “Congresso quer que Lula faça o que nem Bolsonaro fez”
Correia denunciou o que considera uma tentativa da base conservadora do Congresso de impor mudanças que Lula já teria descartado, como desvincular o reajuste do salário mínimo das aposentadorias.
“Já imaginou o aposentado ganhando meio salário mínimo? Isso levaria os idosos à miséria.”
Também apontou que os deputados do Centrão e da extrema direita querem retirar a vinculação constitucional de verbas para saúde e educação. “Eles não conseguiram nem com Bolsonaro e agora querem que Lula faça isso?”, questionou.
STF deve ser acionado
Para o deputado, a derrubada dos decretos que elevaram o IOF por parte do Congresso foi inconstitucional. Ele defende que o governo acione o STF.
“O IOF é prerrogativa do Executivo. Está no artigo 153, inciso 5 da Constituição. O Congresso exorbitou dos seus limites. Quem deve resolver isso é o STF”, frisou.
Corte de renúncias fiscais
Correia também comentou a alternativa discutida com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para compensar a arrecadação sem aumentar impostos para os mais pobres: um corte linear de 10% nas renúncias fiscais.
Segundo ele, o Brasil abre mão de R$ 800 bilhões por ano em isenções. Mesmo com exceções como Simples Nacional e cesta básica, um corte de 10% poderia render R$ 40 a R$ 50 bilhões aos cofres públicos.
“Essa é uma solução que já tratei com o deputado Hugo Motta. É uma discussão que a sociedade precisa fazer: quem deve pagar a conta do arcabouço fiscal?”.
“Debate público é essencial”
O deputado também defendeu que o governo leve o tema para o debate público, como forma de disputar os rumos do país.
“Taxar os de cima e não os de baixo é uma obrigação nossa. Essa é a essência do projeto do presidente Lula. O Centrão e a extrema direita querem inviabilizar o governo. Não podemos permitir.”
Veja a entrevista completa do deputado Rogério Correia no vídeo abaixo:https://youtu.be/vMc_bTkmZ6c
ICL NOTÍCIAS
https://iclnoticias.com.br/economia/crise-do-iof-elites-dominantes/
por NCSTPR | 30/06/25 | Ultimas Notícias
No último sábado, 21 de junho, a Folha de S.Paulo publicou uma pesquisa das mais relevantes dos últimos tempos sobre o mundo do trabalho no Brasil. E o que imediatamente me chamou a atenção foi a maneira como essa pesquisa foi apresentada na manchete do jornal, que afirmava, sem nenhum constrangimento, que “a maioria gostaria de trabalhar por conta própria no Brasil”. A afirmação simplesmente não encontra respaldo nos dados do próprio levantamento.
É muito grave que um veículo do porte da Folha estampe uma manchete desse tipo. A leitura atenta dos números mostra que ela não dialoga, em nenhum nível, com o conteúdo real da pesquisa. Trata-se de uma simplificação grosseira, que não corresponde nem de perto aos percentuais apresentados e, mais grave, distorce o próprio sentido do que foi apurado.
O objetivo central da pesquisa foi identificar como a população brasileira se posiciona em relação ao vínculo empregatício, à carteira de trabalho assinada e à relação disso com a remuneração. Foram feitas duas perguntas-chave: se o trabalhador preferiria ter carteira assinada mesmo recebendo menos, ou se preferiria trabalhar sem carteira, mas ganhando mais. Até aí, tudo bem. O problema começa exatamente na ausência de uma terceira pergunta, absolutamente óbvia, que jamais poderia ter sido deixada de lado: se o trabalhador gostaria de ter carteira assinada e, ao mesmo tempo, ganhar mais. Essa pergunta não apareceu.
Ora, por que ela não apareceu? Por que não se quis perguntar se as pessoas desejam, ao mesmo tempo, proteção social, direitos e uma remuneração justa? Se essa questão estivesse na pesquisa, não tenho dúvida de que os resultados seriam ainda mais contundentes e absolutamente reveladores.
De toda forma, mesmo com essa omissão metodológica inexplicável, os dados já desmontam, por si só, a tese defendida na manchete. A maioria da população brasileira — 67% — prefere trabalhar com carteira assinada, mesmo recebendo menos, contra apenas 31% que optariam por trabalhar sem carteira, desde que ganhassem mais. Isso, por si só, já seria suficiente para derrubar qualquer tentativa de dizer que o país virou as costas para a proteção social.
Os recortes da pesquisa são extremamente reveladores. As mulheres, por exemplo, têm uma percepção muito mais aguçada da importância da carteira de trabalho. Nada menos que 71% das mulheres preferem o vínculo formal, mesmo com remuneração menor, contra 26% que aceitariam a informalidade. Entre os homens, os números também são majoritários, embora um pouco menores: 62% preferem a carteira assinada, contra 36% que aceitariam não tê-la.
Esse dado sobre as mulheres me toca profundamente. O olhar do público feminino sobre a proteção do Estado, sobre os direitos que decorrem do trabalho formal — licença-maternidade, estabilidade, acesso à previdência — é de uma força imensa. E é absolutamente compreensível. Quem já precisou, como eu, conversar com mulheres trabalhadoras, ouvir suas histórias, sabe exatamente do que estou falando. Pense numa mãe, muitas vezes solo, que descobre uma gravidez. Sem a carteira assinada, quem garante a renda dela nos meses em que ela precisa cuidar do filho recém-nascido? Quem paga o sustento dessa casa? Quem assegura que ela poderá acompanhar o desenvolvimento dessa criança sem, ao mesmo tempo, mergulhar na insegurança econômica? É por isso que o apego das mulheres à carteira não é um dado estatístico qualquer — é uma expressão concreta da luta pela sobrevivência, pela dignidade, pela proteção da família.
O mesmo raciocínio vale para os mais pobres. É evidente, quase intuitivo, que quem vive na base da pirâmide social dá um valor enorme à carteira de trabalho. Porque sabe, na pele, o que significa não ter proteção. Sabe o que significa sofrer um acidente, quebrar a mão, machucar o pé e, simplesmente, não ter para onde correr. A pergunta é direta, concreta, sem rodeios: o sujeito se machuca, cai da moto, se corta na obra, e faz o quê? Senta no sofá e espera o quê? Vai viver de quê? Fica dois, três meses parado, e recebe o quê? Nada. A carteira, para essa imensa parcela da população, não é apenas um documento — é a linha tênue entre a dignidade e a completa insegurança.
Por isso, a opção pela formalização, mesmo que com salários menores, tem um peso enorme entre os mais pobres, na classe média baixa, na classe operária. É uma escolha que não se dá apenas no campo da preferência subjetiva, mas nas condições objetivas da vida, na dureza da existência cotidiana de quem, todos os dias, vive à beira do infortúnio.
Por outro lado, quando olhamos para quem tem ensino superior, a percepção é diferente — e faz sentido que seja. Afinal, quem tem formação universitária, muitas vezes, já conquistou certa estabilidade: tem um plano de saúde, uma reserva financeira, um imóvel, um carro. Construiu, ao longo da vida, um pé de meia. Essa pessoa olha para a carteira de trabalho de outra forma. Seu senso de proteção não está mais necessariamente ancorado no contrato formal, mas naquilo que ela própria conseguiu acumular. E, aqui, cabe uma reflexão incômoda: essa conquista, muitas vezes, não foi uma vitória individual, como gostam de acreditar os discursos meritocráticos. Foi, sim, fruto de um esforço coletivo da sociedade — que financiou universidades públicas, que investiu em educação, que criou condições para que engenheiros, médicos, arquitetos e outros profissionais se formassem. É preciso lembrar disso.
Os recortes geracionais também são absolutamente elucidativos. Entre os mais jovens, especialmente na faixa de 16 a 24 anos, predomina a lógica do presente. 66% preferem não ter carteira, desde que ganhem mais. E quem pode culpá-los? Para essa juventude, a aposentadoria, o auxílio-doença, a proteção previdenciária são conceitos distantes. O que importa é o agora. Querem liberdade, querem fazer seu próprio caminho, fugir das amarras das jornadas de seis dias por semana, oito horas por dia. E não estão errados. Essa é a percepção que a própria sociedade — marcada pela precarização, pela falta de perspectivas, pelos baixos salários — construiu para eles.
Aliás, isso não é uma suposição. Falo disso a partir da minha própria experiência. Na Superintendência do Trabalho aqui em Minas Gerais, tenho dialogado com muitos desses jovens. E eles me dizem, sem rodeios, que não se trata de rejeitar a carteira de trabalho em si. Trata-se de querer autonomia, liberdade. Não querem ficar presos no ônibus, na obra, na construção civil, no escritório, no chão de fábrica. Querem mais liberdade para conduzir sua vida, seu trabalho, seus horários. E quem pode dizer que estão errados?
Na outra ponta, entre os trabalhadores com mais de 60 anos, o quadro se inverte completamente. Não se trata nem tanto de uma necessidade concreta — afinal, muitos já estão aposentados —, mas de uma memória geracional. É a geração que viveu sob a proteção da CLT, que viu na carteira assinada o caminho para construir uma vida, garantir a aposentadoria, criar os filhos, comprar a casa. É por isso que, nesse grupo, nada menos que 79% preferem a carteira assinada, mesmo que isso signifique ganhar menos.
O que essa pesquisa revela, portanto, é um Brasil dividido, mas não no sentido que a manchete da Folha tentou vender. O que ela escancara é que a classe trabalhadora brasileira — especialmente os mais pobres, as mulheres, os mais velhos — segue valorizando enormemente o contrato formal, o vínculo empregatício, a proteção social. Ao mesmo tempo, denuncia, de forma silenciosa, o fracasso coletivo da nossa sociedade em oferecer salários dignos, condições de trabalho decentes e perspectivas reais de futuro para a juventude.
E volto, mais uma vez, à omissão mais grave desta pesquisa: a pergunta que não foi feita. Se os pesquisadores do Datafolha tivessem perguntado se os brasileiros gostariam de ter a carteira assinada e, ao mesmo tempo, ganhar mais, não tenho nenhuma dúvida de que o resultado seria esmagadoramente favorável à formalização. A ausência dessa pergunta não é um detalhe técnico — é um vício metodológico que permitiu, deliberadamente ou não, a construção de uma manchete enganosa, que tenta sustentar uma tese que simplesmente não encontra respaldo nos dados.
Por isso, o que a pesquisa faz, de fato, é desmontar — e desmontar com força — essa imagem profética que se tentou vender à sociedade brasileira nos últimos anos. Uma narrativa que tentava naturalizar a ideia de que a informalidade é sinônimo de modernidade, de que a ausência do Estado seria liberdade, de que viver sem direitos é uma escolha da maioria. Tentaram, por muito tempo, convencer o povo brasileiro de que não ter carteira assinada é ser empreendedor, é ser empresário de si mesmo, é ser moderno, é ser livre. De que o liberalismo selvagem, a desregulamentação e a precarização seriam caminhos desejáveis. A pesquisa destrói essa fantasia. Mostra, com números irrefutáveis, que a classe operária brasileira — sim, ela existe, resiste e está viva — rejeita essa falsa promessa. E reafirma, de maneira clara, que o povo trabalhador quer é proteção, é segurança, é vínculo, é direito. Quer a carteira de trabalho, quer o Estado, quer a legislação, quer aquilo que a história lhe ensinou que é o único caminho possível para garantir dignidade: trabalho decente e protegido.
Em outras palavras, a classe trabalhadora brasileira, a boa e velha classe operária, segue resistindo. Surpreende. Dá, mais uma vez, uma aula de consciência coletiva, de resistência, de clareza sobre o que significa ter direitos, proteção social, estabilidade, segurança. E isso, gostem ou não, permanece como um traço estruturante da sociedade brasileira.
DM TEM DEBATE
https://www.dmtemdebate.com.br/o-brasil-ainda-valoriza-a-carteira-de-trabalho-uma-analise-critica-da-pesquisa-datafolha/
por NCSTPR | 30/06/25 | Ultimas Notícias
A taxa de desemprego no Brasil registrou uma redução de 0,6 ponto percentual no trimestre encerrado em maio, ficando em 6,2%. Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o contingente de trabalhadores com carteira assinada no setor privado atingiu patamar recorde.
O número de pessoas desocupadas foi de 6,8 milhões, uma queda de 8,6% em comparação com o trimestre anterior, quando 7,5 milhões de pessoas estavam desocupadas. A quantidade de pessoas ocupadas em maio foi de 103,9 milhões de pessoas, um avanço de 1,2% na comparação com o trimestre anterior e alta de 2,5% na relação anual. Já o nível de ocupação, que responde pelo percentual de pessoas ocupadas em idade de trabalhar, atingiu 58,5%.
O contingente de pessoas com carteira assinada no setor privado atingiu 39,8 milhões de pessoas no trimestre encerrado em maio. Outro destaque foi a quantidade de desalentados, pessoas sem ocupação e que não buscam um trabalho, que teve uma redução de 10,6%, para 2,9 milhões, menor patamar desde 2016.
Segundo o analista da pesquisa, William Kratochwill, o resultado indica que o mercado de trabalho está no melhor patamar dos últimos 10 anos, em um cenário aquecido e com o aumento de vagas formais. “Os principais responsáveis para a redução expressiva da taxa de desocupação foram o aumento do contingente de ocupados, que cresceu 1,2 milhão de pessoas, naturalmente reduzindo a desocupação, além de taxas de subutilização mais baixas”, comentou.
Informalidade
A taxa de informalidade foi de 37,8% no período, o que corresponde a 39,3 milhões de trabalhadores informais. O índice é inferior ao verificado no trimestre móvel anterior, que era de 38,1%. A queda na informalidade é consequência da estabilidade do contingente de trabalhadores sem carteira assinada, acompanhada da alta de 3,7% do número de trabalhadores por conta própria com CNPJ.
Já a taxa composta de subutilização da força de trabalho — percentual de pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas e na força de trabalho potencial em relação à força de trabalho ampliada — ficou em 14,9%.
Dos 10 grupamentos de atividade investigados pela Pnad, apenas administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais registraram crescimento na ocupação. Os demais não apresentaram variação significativa.
Segundo Pedro Ros, CEO da Referência Capital, o índice registrado sobre desemprego indica uma relativa resiliência do mercado de trabalho, mas ainda dentro de um cenário de crescimento moderado e heterogêneo. “A criação de vagas ocorre de forma concentrada em setores de baixa produtividade, o que limita os ganhos de renda e a expansão do consumo”, ponderou.
“Para impulsionar o emprego com qualidade, o país precisa de um ambiente econômico mais previsível, com estímulos ao investimento, políticas de qualificação profissional e acesso ao crédito. O desafio agora é transformar essa estabilidade em dinamismo real”, afirmou o especialista.
Rendimento
O rendimento médio mensal real habitual de todos os trabalhos chegou a R$ 3.457 no trimestre de março a maio de 2025, resultado estável. O maior número de pessoas ocupadas ampliou a base de rendimentos. A massa de rendimento real habitual, que é a soma das remunerações de todos os trabalhadores, atingiu R$ 354,6 bilhões, batendo novo recorde, uma alta de 1,8% no trimestre.
“Como o rendimento médio real permaneceu estável, consequentemente ocorreu aumento da massa de rendimentos, ou seja, a maior massa de rendimentos resultou quase exclusivamente da expansão do volume de ocupados, e não de aumento do rendimento médio”, explicou o analista da pesquisa.
O resultado revela uma economia com o mercado de trabalho surpreendentemente resiliente, mesmo diante de juros elevados e crescimento econômico moderado. Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, a leitura qualitativa do indicador sugere que o segmento segue robusto, e os sinais recentes de deterioração em sua composição parecem ter sido pontuais.
“Diante das surpresas observadas nos últimos meses e da natureza cíclica do mercado de trabalho, ainda esperamos uma desaceleração gradual do setor, embora ele deva permanecer nesses níveis historicamente mínimos por mais algum tempo”, avaliou. Para 2025, a projeção do economista é de uma taxa média de desemprego encerrando o ano em 6,4%.
Com os resultados, a XP manteve seu cenário base de mercado de trabalho aquecido, sem sinais evidentes de arrefecimento nas métricas principais. De acordo com Rodolfo Margato, economista da XP, o emprego total segue em alta, os salários reais continuam avançando, e a massa de renda permanece em forte expansão — fatores que mantêm os custos unitários do trabalho pressionados. “Esses elementos sustentam o cenário de atividade doméstica resiliente e de inflação de serviços ainda elevada em 2025”, destacou.
CORREIO BRAZILIENSE
https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2025/06/7185834-taxa-de-desemprego-cai-a-62-no-trimestre-terminado-em-maio.html
por NCSTPR | 30/06/25 | Ultimas Notícias
Quando há a possibilidade de fiscalizar a jornada, mesmo para trabalhadores externos, a empresa deve pagar horas extras. Com esse entendimento, a 8ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (MG) deu provimento ao recurso de um vendedor externo que pedia o pagamento de horas que extrapolavam sua jornada.
O vendedor saiu da empresa em que trabalhava e ajuizou uma ação contra ela pedindo o pagamento de horas extras. O juiz da primeira instância indeferiu o pedido por entender que o autor se encaixa nas situações do artigo 62 da Consolidação das Leis do Trabalho, em que não há direito a horas extras e adicionais noturnos, por ser impossível o controle de jornada.
O profissional recorreu e disse que o registro da jornada era possível, já que a empresa fornecia carro com rastreador, celular e computador. A empregadora também exigia que fossem lançados os horários de trabalho e os pedidos de venda no sistema interno. O trabalhador também era obrigado a cumprir roteiros de visitas elaborados pelo gerente.
Para os desembargadores, a prova oral confirmou que havia possibilidade de marcar a jornada. “O sistema interno viabilizava o lançamento das visitas realizadas, com horários e fotos, além de permitir os lançamentos das vendas, com acompanhamento pelo gerente, o que denota que se a empregadora deixou de fiscalizar a jornada, o fez por opção própria, mas não por inviabilidade”, escreveu o relator, Sérgio Oliveira de Alencar.
Portanto, para o colegiado, as regras do artigo 62 da CLT não devem ser aplicadas ao caso. Os desembargadores determinaram o pagamento das horas extras e intervalos entre jornadas.
“O caso tem destaque na jurisprudência brasileira e poderá servir de precedente alterando decisões envolvendo discussões sobre pagamento de horas extras para vendedor externo na justiça do trabalho”, disse o advogado Denison Leandro, que atuou no caso.
Clique aqui para ler o acórdão
Processo 0011380-87.2023.5.03.0104
por NCSTPR | 27/06/25 | Ultimas Notícias
Há crescente presença de capital estrangeiro em setores estratégicos da economia brasileira. A seguir, apresento uma visão abrangente sobre a desnacionalização em diversos setores industriais e de serviços de concessões públicas, bem como a integração do Brasil à divisão internacional do trabalho.
Além das indústrias automobilística e farmacêutica, outros setores industriais no Brasil, bem como serviços de utilidade pública, apresentam grande participação estrangeira:
- Indústria de Pneus: empresas multinacionais dominam o setor, com marcas como Michelin, Pirelli, Bridgestone e Goodyear operando fábricas no país;
- Indústria Química e Petroquímica: grandes empresas estrangeiras, como a alemã BASF e a norte-americana Dow Chemical, possuem operações dominantes no Brasil;
- Indústria de Máquinas e Equipamentos: empresas como Siemens (Alemanha) e General Electric (EUA) estão presentes no setor, fornecendo equipamentos industriais e soluções tecnológicas;
- Indústria de Eletrodomésticos e Eletrônicos: multinacionais como Whirlpool, LG, Samsung e Electrolux têm fábricas no Brasil, produzindo para o mercado interno e exportação;
- Energia e Saneamento: empresas estrangeiras têm participação em serviços de utilidade pública como a canadense Brookfield detentora da BRK Ambiental, uma das maiores empresas privadas de saneamento do Brasil, além de ativos em energia renovável;
- Telecomunicações: o setor passou por mudanças regulatórias para facilitar a entrada de capital estrangeiro como na Claro, Telefônica, Vivo etc. Por exemplo, a Hispamar é uma empresa de comunicações via satélite, fundada em 2002 pelo grupo espanhol Hispasat e a operadora brasileira Oi. Em 2021, a Oi vendeu sua participação e a Hispamar passou a ser controlada integralmente pela Hispasat.
O Brasil está plenamente integrado à divisão internacional do trabalho, caracterizando-se destacadamente por exportação de commodities. O país é um dos maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas (soja, milho, carne) e minerais (minério de ferro, petróleo), com empresas como JBS, Marfrig, Vale e Petrobras desempenhando papéis centrais.
É dependente da importação de bens de capital e tecnologia. Apesar de possuir um parque industrial diversificado, o Brasil depende da importação de máquinas, equipamentos e tecnologias avançadas, evidenciando uma inserção periférica na cadeia global de valor.
É notável a presença de multinacionais. Muitas empresas estrangeiras utilizam o Brasil como base de produção para atender ao mercado interno e à exportação para a vizinhança latino-americana. Reforça a dependência de decisões estratégicas tomadas fora do país.
A desnacionalização de setores industriais e de serviços públicos no Brasil reflete uma estratégia neoliberal, baseada na privatização e atração de investimento estrangeiro. Embora isso tenha contribuído para a modernização de infraestruturas e aumento da produtividade, também levanta preocupações sobre a soberania econômica porque a dependência de decisões tomadas por matrizes estrangeiras limita a autonomia nacional em setores estratégicos.
A remessa de lucros para o exterior impacta negativamente o balanço de transações correntes e reduz a capacidade de reinvestimento interno. A presença de multinacionais sem condicionantes não se traduz em transferência de tecnologia ou fortalecimento de cadeias produtivas locais.
Para equilibrar os benefícios da integração global com a possibilidade de desenvolvimento relativamente autônomo, é questionável se ainda é viável implementar políticas industriais de modo a promover a inovação local, fortalecer empresas nacionais e assegurar a soberania em setores-chave.
Para compreender o posicionamento do Brasil nas cadeias globais de valor, o exemplo da indústria automobilística é o mais visível. Nas ruas, dá para observar todas as montadoras serem estrangeiras.
O Brasil não possui nenhuma montadora de capital nacional. As empresas dominantes o setor são todas estrangeiras, como Volkswagen (Alemanha), General Motors (Chevrolet) (EUA), Stellantis (Itália-França-EUA: reúne Fiat, Peugeot, Citroën, Jeep), Toyota, Honda, Nissan (Japão), Hyundai, Kia (Coreia do Sul), Renault (França), BMW, Mercedes-Benz (segmento premium, Alemanha), BYD, GWM (China).
No passado, houve tentativas de criação de montadoras nacionais como a Gurgel, nos anos 1980. Não prosperaram em um ambiente de concorrência acirrada, escassez de financiamento e dependência tecnológica.
A produção no Brasil é feita majoritariamente por montagem (CKD, SKD e variantes). Há conteúdo local, especialmente, em veículos voltados ao mercado interno.
Há duas situações distintas:
- modelos voltados ao mercado doméstico: possuem maior conteúdo nacional (média de 60% a 80% de componentes locais, dependendo do modelo e da política de incentivo vigente);
- modelos de alto valor agregado ou voltados à exportação: costumam ter maior dependência de peças importadas.
A indústria de autopeças no Brasil é um setor ainda forte, embora altamente integrado a multinacionais. Existem subsidiárias de grandes sistemistas globais, como Bosch, Magneti Marelli, ZF, Delphi, Denso. Mas ainda há empresas nacionais relevantes, como Romi, Sabó, Randon, Fras-le, Marcopolo, especialmente em segmentos como carrocerias, freios, suspensão, peças estruturais.
A indústria brasileira de autopeças chegou a exportar componentes em grande volume, especialmente para América Latina e EUA, mas perdeu competitividade nos anos recentes com a valorização cambial e concorrência asiática.
A indústria automotiva brasileira faz parte de uma cadeia global de produção. Essa é uma das suas principais características desde a década de 1990.
Após a abertura comercial e a internacionalização da economia, o Brasil passou a ser plataforma regional de produção, especialmente para o Mercosul. As montadoras padronizaram plataformas globais, exigente de alinhamento com fornecedores internacionais.
A cadeia automotiva brasileira tornou-se parcialmente integrada à cadeia global, mas com função subordinada, com menor autonomia em P&D, design e estratégia de produto. Essa integração é assimétrica porque o Brasil é elo industrial intermediário, com foco na montagem e fornecimento regional, mas com pouca inserção nos elos superiores da cadeia, isto é, na pré-produção em projeto, engenharia e inovação.
A indústria automobilística no Brasil opera como um subsistema periférico de montagem e fornecimento regional ou continental, com montadoras estrangeiras dominantes. A indústria de autopeças é mista (multinacionais e empresas nacionais). Tem inserção subordinada nas cadeias globais de valor, com conteúdo local relevante, mas dependência tecnológica e decisória.
Em contraste, a atividade bancária e a indústria de construção civil ficaram sob controle nacional por causa de antiga reserva de mercado e nível tecnológico acessível aos empreendedores brasileiros. A predominância de capital nacional na atividade bancária e na indústria da construção civil no Brasil é explicada, historicamente, por uma combinação de reserva de mercado institucional e regulatória. Ambos contaram com apoio estatal e financeirização nacional.
Fernando Nogueira da Costa é professor titular do Instituto de Economia da UNICAMP. Obras (Quase) Completas em livros digitais para download gratuito em http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/). E-mail: fernandonogueiracosta@gmail.com.
DM TEM DEBATE
https://www.dmtemdebate.com.br/desindustrializacao-ou-desnacionalizacao-da-industria-brasileira/
por NCSTPR | 27/06/25 | Ultimas Notícias
Banco Central revisa projeções e reduz estimativas de inflação para 2025, para 4,9%, mas mas segue prevendo inflação acima do centro da meta nos próximos dois anos
O Banco Central passou a fazer projeções mais longas para a inflação e, nesse novo cenário, não consegue fazer com que o indicador do custo de vida fique no centro da meta, de 3%, até 2027, conforme as novas estimativas que constam no Relatório de Política Monetária (RPM), divulgado nesta quinta-feira (26/6).
Pelas novas perspectivas do BC, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, deverá encerrar 2025 em 4,9%, ainda acima do teto da meta, de 4,50%, passando para 3,6%, no fim de 2026, e para 3,2%, em 2027, e o relatório reconhece que os riscos para a inflação, “tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual”, apesar da desaceleração recente no indicador.
“A nossa avaliação, já colocada nas comunicações, é de uma inflação resiliente acima da meta. Apesar da surpresa baixista no período recente, no acumulado em 12 meses”, afirmou o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen. Ele reconheceu que houve surpresas no desempenho da atividade econômica, principalmente no setor agropecuário e no consumo, para o BC elevar de 1,9% para 2,1% a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano.
Em maio, o IPCA registrou alta de 0,26%, acumulando alta de 5,32% em 12 meses. Já o IPCA-15 de junho, prévia da inflação oficial, também desacelerou e avançou 0,26%, acumulando alta de 5,40% em 12 meses. Além disso, as estimativas estão mais otimistas do que as projeções do mercado, cuja mediana coletada pelo BC no boletim Focus está em 5,25%, neste ano; em 4,50%, em 2026; e em 4%, em 2026, e em 3,6%, em 2028 — patamar que o BC prevê para o fim de 2026.
Risco fiscal
A piora do quadro fiscal tem influenciado a precificação dos riscos pelo mercado e as decisões de condução da política monetária, de acordo com o Banco Central. Ao apresentar os dados da segunda edição RPM, que substituiu o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), Guillen reconheceu que, ao decompor os fatores do prêmio de risco, o fator fiscal é o que mais influencia uma elevação na curva de juros.
“O fator fiscal, que teve contribuição menor no prêmio de risco no passado, agora, está mais elevado e se relaciona com o tema na ata de impactos de curto prazo na curva de juros”, afirmou Guillen, a jornalistas. Segundo ele, o peso do fator fiscal na composição dos prêmios de risco ficou maior desde o biênio 2015-2016, quando o governo federal modificou a meta fiscal e passou a permitir sucessivos rombos nas contas públicas.
De acordo com o relatório do BC, no balanço de riscos de alta para o cenário de inflação o diretor do BC destacou uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
Entre os riscos de baixa considerados pelo BC , ressaltam-se: uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação; uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários.
CORREIO BRAZILIENSE
https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2025/06/7184656-inflacao-seguira-acima-da-meta-ate-2027-estima-bc.html