NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

Segundo revelam as estatísticas, cerca de 700 mil dos mais de 2,5 milhões de caminhoneiros que o Brasil possui hoje, pegam as estradas todos os dias sob efeito de drogas lícitas ou ilícitas, para fazer render a viagem e compensar o baixo preço do frete e o tempo estabelecido para a entrega. Eles acabam com isso, se transformando em agentes do perigo nas rodovias de todo o país. Foi esse um dos assuntos enfocados com maiores detalhes na edição passada do Jornal Tribuna dos Lagos, e por ser uma questão voltada à segurança do ser humano e, portanto, de grande interesse para toda população ouvimos sobre ela dois dirigentes sindicalistas ligados ao transporte de cargas, em Dois Vizinhos e região.

Alcir Ganassini, presidente do Sindicato dos Motoristas, Condutores de Veículos Rodoviários Urbanos e em Geral, Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Dois Vizinhos (Sintrodov), ressaltou que desde a sua fundação há 22 anos, garantir a segurança, a saúde física e financeira dos trabalhadores do setor de transporte, bem como a segurança do patrimônio das empresas, foram sempre as principais bandeiras de luta do Sintrodov. As discussões sobre a questão da normatização da jornada de trabalho da classe foi intensificada há cerca de dez anos, com um grande avanço sendo conquistado na convenção coletiva de 2009, quando se determinou o fim do pagamento dos motoristas por comissão, ressaltou. “Ocorre que passados já dois anos de vigência do acordo, muitas empresas continuam não respeitando, e insistindo em pagar por comissão seus motoristas, e por isso poderão pagar caro lá na frente, quando forem enquadrados por desrespeito a Lei”, disse Ganassini. Mas de acordo com o líder sindicalista uma grande parcela tem procurado cumprir com o acordo feito na convenção e isso tem se refletido diretamente no número de acidentes nas estradas com envolvimento de motoristas de Dois Vizinhos, o que apresentou redução significativa nos dois últimos anos.

Para o presidente do Sintrodov, a única forma de acabar com o doping dos motoristas ao volante é acabando com o pagamento por comissão, quando quem faz o seu salário é o caminhoneiro. “Quanto mais ele rodar mais ele vai ganhar, o que há anos trabalhamos para que acabe. Queremos que o trabalhador tenha o seu momento descanso”, enfatizou ao contra argumentar que se o empresário pode descansar em casa, então porque o caminhoneiro te que rodar 24 horas? Alcir Ganassini defende que ao pagar salário e mais as horas extras e diárias de alimentação ao seu funcionário, ele vai parar de fazer loucura nas estradas, como tomar droga e viajar direto sem descanso. “Temos nos empenhado para fazer com que também o profissional do volante se conscientize sobre essa questão. De nada adianta nós aqui do Sindicato conquistarmos a melhor Lei se o trabalhador não cobra das empresas o seu cumprimento”, ponderou. Para Ganassini o trabalhador do setor de transportes de cargas deve exigir os seus direitos, para que além do descanso possa também cuidar de sua saúde. Sobre se o fim do trabalho por comissão reduz o ganho dos caminhoneiros, o presidente do Sintrodov comentou que o trabalhador pode ficar tranqüilo que isso não irá acontecer. “Rodando em média de 12, 13 horas por dia, que até se permita que ele possa fazer isso, ele vai ganhar o mesmo que rodando 24 horas, por comissão”, demonstrou.

“Muitos motoristas não pararam ainda para fazer as contas e ver que na realidade não ganharão mais trabalhando por comissão, mas isto sim: estarão é colocando em risco algo que é muito mais importante não só para si, para toda a sua família. Além de perder a saúde e ficar vulnerável aos acidentes, o motorista estará  sujeito a perder a sua própria vida e deixar órfãos esposa e filhos, recaindo daí a principal culpa sobre o embarcador e o transportador”, diz.

PATRONAL

Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Vale do Iguaçu (Sindivale), Jarton Fernando Sartoretto, a maioria das empresas ainda encontra dificuldades para cumprir com o que foi estabelecido na convenção de 2009, pelo fato de cada transitar (tempo de viagem) ser diferente o que torna complicado o controle sobre o motorista. “São vários segmentos de transporte de cargas, cada caso é um caso. O produto a granel é diferente do frigorificado, da ração, da carga fracionada, do combustível, do gás, e assim por diante. Utilizar uma norma para atingir todo mundo é realmente muito difícil”, comentou.

Outra dificuldade apontada por ele é a falta de estrutura das estradas para possibilitar que o motorista consiga parar e repousar vencidas às oito horas de trabalho, pois não existem locais apropriados. Com isso, segundo Sartoretto,“às vezes o motorista se vê obrigado a tocar mais uma hora, duas horas, ou parar uma hora antes, em um lugar que possibilite a parada. As estradas continuam as mesmas de 20 anos atrás, enquanto o número de veículos triplicou”, observou.

Segundo Jarton este é um assunto que está em discussão a nível de governo, e na própria Câmara dos Deputados, onde se busca uma solução para o problema. “Logo, de nada adiantará ser votada uma lei, sem que haja condições de ser cumprida”, ponderou o presidente do Sindivale, ao dizer que primeiro é preciso estrutura nas estradas, para depois haver a cobrança. “Estamos juntamente com o próprio Sintrodov, tentando fazer com que a norma funcione, pois ela representa garantia do patrimônio das empresas, além de evitar que elas fiquem com passivo trabalhista e sejam alvos de risco a usuários das rodovias. Jarton Sartoretto enfatizou com grande avanço conquistado pelo Sindivale, neste ano, a negociação feita com a Sadia, que resultou na flexibilização dos horários. “O tempo de uma viagem de Dois Vizinhos a Paranaguá que era de 14 horas foi aumentado para 20, 21 horas”, detalhou.

Sobre o doping dos motoristas, o dirigente sindical patronal, citou: “Temos observado que Graças a Deus a utilização de substâncias químicas para vencer jornadas não é uma prática comum entre os motoristas de Dois Vizinhos, o mesmo que não se percebe com os motoristas que de fora por aqui transitam”. Sobre a utilização da tecnologia da informática para auxiliar nesse controle, Jarton ressaltou que a maioria da frota de caminhões que circula pelas nossas estradas é ainda composta por veículos com idade acima de 8, 10 anos de uso. Por último, Jarton Sartoretto destacou como altamente positivo o fato de Dois Vizinhos ser o município pioneiro no Brasil no tocante a tomada de posição visando combater excessos praticados por motoristas para vence as jornadas de trabalho. “Estamos também aprendendo, não temos de quem copiar, é então plenamente justificável essa série de dificuldades que estamos encontrando, na implantação da medida”, concluiu.