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A presidente Dilma Rousseff já aceita ações mais pesadas do Banco Central para conter a inflação. Além de uma Selic acima do previsto pelo mercado, serão adotadas novas restrições ao crédito, como a alta dos compulsórios dos bancos
 

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, recebeu carta branca da presidente Dilma Rousseff para arrochar ainda mais a oferta de crédito e conter o consumo, que está empurrando a inflação perigosamente para o teto da meta definida pelo governo, de 6,5%. Diante da desconfiança generalizada da população e dos agentes de mercado na capacidade da autoridade monetária de interromper o forte movimento de remarcação de preços, já há um consenso de que o aumento da taxa básica de juros (Selic) poderá se estender um pouco além do previsto inicialmente — os economistas trabalham com, no máximo, mais duas altas, uma de 0,5 e outra de 0,25 ponto percentual. E mais: muito provavelmente, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) deve subir e os bancos serão obrigados a ampliar os recolhimentos que fazem compulsoriamente aos cofres do BC.

No cronograma traçado dentro do governo, as ações complementares de combate à inflação vão se estender até o terceiro trimestre, quando, no acumulado em 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terá atingido o seu ápice e rompido o teto da meta. O aperto só se encerraria, portanto, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de agosto. “A posição da presidente Dilma é clara: Tombini tem total autonomia para fazer o que for preciso no sentido de que a inflação convirja para o centro da meta (4,5%) ao longo de 2012. Muitas medidas já foram tomadas e vão surtir efeitos nos próximos meses. É importante deixar claro que o BC está agindo”, disse ao Correio um importante integrante da equipe econômica. Ele ressaltou que, para pôr a inflação no alvo de 4,5% neste ano, o Brasil teria de entrar em recessão, o que nenhum BC do mundo faria. “Não se trata de autonomia ou de independência. Mas de sensatez”, acrescentou.

Efeito Mantega
O Palácio do Planalto reconhece que há um “deficit” na comunicação do BC com o mercado financeiro, muito em função da fragilidade da política fiscal nos dois últimos anos da administração Lula. A situação se agrava porque os analistas veem na manutenção de Guido Mantega à frente do Ministério da Fazenda a continuidade da gastança pública. “Mas acreditamos que, com resultados concretos na área fiscal, todos perceberão que o governo mudou e que a orientação da política econômica é outra, independentemente de pessoas”, afirmou um dos assessores mais próximos de Dilma. “Muitos não acreditavam, mas o setor público fez um superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida) de quase R$ 8 bilhões em fevereiro. Trata-se de um feito e tanto.”

A equipe econômica está ciente de que terá de lidar com dados muito complicados pelo menos até junho, pois os preços das commodities agrícolas (cotadas em bolsas internacionais), que haviam subido 55% no segundo semestre, saltaram mais de 20% desde janeiro, alta que será, em grande parte, repassada aos consumidores, fazendo o IPCA ficar acima do desejado (0,37% ao mês). “É essa expectativa que está movendo a desconfiança atual. Enquanto a inflação corrente não ceder para níveis compatíveis com as metas, haverá ruídos entre o BC e o mercado. Mas estamos muito tranquilos”, acrescentou o assessor palaciano.

Interesses políticos
Para os analistas, a credibilidade arranhada do BC é, em parte, herança de seu ex-presidente Henrique Meirelles, que relutou em atacar a inflação devido a interesses políticos. “Boa parte desse processo é derivado da condução da política monetária no ano passado. Não é à toa que as expectativas de inflação pioraram mais do que o normal”, disse Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investment Bank. Na avaliação de José Roberto Carreira, economista da Fair Corretora, o BC se enfiou em mais dificuldades ao tentar mirar mais de um objetivo. “O BC tomou uma série de medidas que têm eficácia de curto prazo. Tentou conter o crédito ao tirar liquidez do mercado, mas o brasileiro continuou a comprar. Aumentou a tributação para capital estrangeiro, mas os fluxos de recursos para o país continuam firmes e o dólar cai”, disse.

Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio e ex-diretor do BC, explicou que o uso de medidas macroprudenciais como complemento à alta dos juros ainda incomoda os integrantes do mercado. “O grande problema é que o BC introduziu medidas que realmente surtem efeito para conter a inflação, mas não têm histórico de sucesso no regime de metas”, ressaltou. “Algumas dessas iniciativas não são novas, mas será que elas têm capacidade para acertar o centro da meta?”, indagou. A dúvida dele é compartilhada por quase todo o mercado. “Com a mudança de postura do BC é preciso, agora, aprimorar a comunicação da autoridade monetária. O mercado estava habituado a outros sinais e pistas e, neste momento, se faz necessário aprimorar a comunicação para evitar custos ao país”, concluiu.

Combustíveis preocupam
O litro de álcool no Distrito Federal chegou a R$ 2,432, correspondendo a 89,47% do preço da gasolina, combustível mais aconselhável para os donos de carros Flex. Na média, o etanol está sendo vendido a R$ 2,23 em todas as regiões brasileiras, com aumento de 4,73% em março, segundo o Instituto de Pesquisa Ticket Car. A disparada do valor dos combustível se tornou um fator a mais de preocupação para o Banco Central.

NOVO MINISTÉRIO
O Palácio do Planalto anunciou ontem à noite a publicação de uma edição extra do Diário Oficial da União criando, num projeto de lei, a Secretaria da Micro e Pequena Empresa, que terá status de ministério. A proposta terá de ser apreciada pelo Congresso, a quem caberá aprovar ou não a pasta. O Palácio não anunciou quem seria o ministro titular, mas o nome mais cotado é o do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). A indicação dele liberaria uma vaga no Senado para o presidente do PT, José Eduardo Dutra. O governo também anunciou ontem as nomeações do ex-ministro Pedro Brito para a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), de Jaime César Oliveira para a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e de Bruno Sobral para a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Os nomes constarão no DOU de hoje.