NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

Por SIMON ROMERO
BRASILEIA, Brasil – Meses atrás, Wesley Saint-Fleur pegou um ônibus no Haiti, depois um avião na República Dominicana, que pousou primeiro no Panamá e depois no Equador. Foi aí que sua mulher deu à luz a seu filho. Então eles continuaram de ônibus novamente, atravessando o Equador e o Peru. Em seguida, caminharam a pé pela Bolívia, onde ele disse que a polícia roubou suas poupanças: US$ 320.
“Finalmente chegamos ao Brasil, que segundo me disseram está construindo tudo – estádios, represas, estradas”, disse Saint-Fleur, 27, um trabalhador da construção civil. “Tudo o que eu quero é trabalho. O Brasil graças a Deus tem empregos para nós.”
Milhares de haitianos percorreram as Américas para alcançar as pequenas cidades da Amazônia brasileira durante o último ano, em uma busca desesperada por trabalho, incluindo centenas que chegaram nas últimas semanas entre temores de que o governo brasileiro possa conter o influxo.
Suas jornadas dizem muito sobre as péssimas condições econômicas no Haiti dois anos depois do terremoto de 2010, assim como sobre o perfil econômico ascendente do Brasil, que rapidamente está se tornando um ímã não apenas para trabalhadores estrangeiros pobres como também para um número crescente de profissionais da Europa, Estados Unidos e América Latina.
Ao chegar, os haitianos geralmente recebem vacinas, água limpa e duas refeições por dia. Muitos ficam semanas em Brasileia e em outras cidades antes de receber vistos humanitários que lhes permitam trabalhar no Brasil.
Mas nessa onda de recém-chegados outros não têm tanta sorte. Alguns se amontoam em um pequeno quarto de hotel ou dormem nas ruas. “Não posso permitir que a tristeza me domine. A oportunidade virá depois da fase difícil”, disse Simonvil Cenel, 33, um alfaiate que espera um visto.
Cerca de 6.000 haitianos emigraram para o Brasil desde o terremoto, passando primeiro pelo Equador, um país mais pobre que tem políticas de visto mais brandas. O Brasil fez uma exceção para os haitianos, em contraste com cidadãos que chegam de países como Paquistão, Índia e Bangladesh por rotas amazônicas semelhantes, buscando emprego, mas que geralmente são deportados.
“O Haiti está se recuperando de um período de crise extrema e o Brasil tem condições de ajudar essas pessoas”, disse Valdecir Nicácio, uma autoridade de direitos humanos do Estado do Acre, onde se situa Brasileia. “Antes de chegar aqui elas ficam à mercê dos traficantes humanos”, disse ele. “O Brasil é grande o suficiente para absorver os haitianos, que apenas querem empregos.”
As autoridades nas cidades de fronteira advertiram sobre as dificuldades de alimentar e abrigar os haitianos enquanto os pedidos de visto são analisados. As autoridades federais enviaram toneladas de alimentos para os imigrantes, que são mais de mil em cada assentamento de fronteira.
Até recentemente, o Brasil estava mais preocupado com a saída de seus cidadãos, que buscavam oportunidades nos países ricos. Embora o crescimento econômico tenha desacelerado, o desemprego está em um nível historicamente baixo, de 5,2%, e muitas empresas têm dificuldade para encontrar trabalhadores. Os salários também subiram para a camada mais baixa: a renda dos brasileiros pobres cresceu sete vezes mais que a dos ricos de 2003 a 2009.
A cidade de Porto Velho fica na parte alta da bacia amazônica, onde o Brasil está empregando milhares de pessoas para construir duas grandes represas. Ana Terezinha Carvalho, analista de gestão de pessoal da Marquise, uma empresa local, disse que contratou 37 haitianos no ano passado para recolher lixo. Alguns ganham mais de US$ 800 por mês.
O esforço para permitir que haitianos trabalhem no Brasil também denota as ambições do país em exercer maior influência regional, buscando aliviar problemas no país mais pobre do hemisfério. Desde 2004 o Brasil enviou tropas para liderar uma missão de paz da ONU no Haiti. Hoje, há mais haitianos no Brasil do que soldados brasileiros no Haiti -cerca de 2 mil homens, atualmente.