Os trabalhadores informais do Grande ABC representam 40% das pessoas que moram na região e exercem atividade remunerada. Eles são, em sua maioria, mais velhos do que os que possuem registro em carteira. Têm idade média de 47 anos, quase dez a mais do que um profissional com CLT, 38 anos. Em contrapartida, seu rendimento médio é de R$ 1.111,34, enquanto o do formalizado é de R$ 1.794,74, diferença de 61%.
Isso é o que aponta estudo desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas da Universidade Municipal de São Caetano, divulgado com exclusividade à equipe do Diário. A pesquisa domiciliar reuniu amostra de 1.140 trabalhadores das sete cidades, entrevistados entre março e abril deste ano.
Apesar de os salários dos informais serem, em média, mais baixos, isso não significa que quem não tem carteira assinada ganha menos. É que a indústria da região, que emprega 27% dos ocupados no Grande ABC, oferece salários maiores. De acordo com dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Seade/Dieese, são pagos em média R$ 1.906, contra R$ 1.327 do setor de serviços. E, como quem trabalha em indústria normalmente é registrado, isso acaba exercendo peso maior no rendimento médio dos formalizados.
PROFISSÕES – Lideram a informalidade no Grande ABC as atividades de diarista e auxiliar de limpeza, com 9,1% do total. Na sequência, aparecem cabeleireiros e manicures (6,9%), atendentes de balcão (6,4%) e comerciantes (5,2%).
Para a diarista Valdice Santos, 47 anos, que mora em Santo André mas trabalha em São Bernardo e São Caetano, a opção por não ser registrada é a melhora no salário. “Eu trabalhava com registro, mas nunca ganhei mais do que R$ 600. Então, há quatro anos, resolvi me tornar diarista e trabalhar em diversas casas de família. Hoje consigo tirar R$ 1.400”, diz. Para ter mais dinheiro no bolso, ela conta que trabalha mais. “Em alguns lugares, aproveito para limpar duas casas no dia. Se o dia fosse mais longo, iria procurar mais serviço.”
Para o cabeleireiro de Santo André João Neto o objetivo é o mesmo: elevar o salário. “No meu salão trabalho por comissão com as manicures. Acho que é mais justo, pois isso as incentiva a trabalhar mais e, consequentemente, a ganhar mais, já que elas recebem pelo quanto trabalham”, conta.
As profissionais deixam 20% do que ganham no local. É como se fosse uma taxa de locação do espaço. Portanto, se conseguem tirar R$ 2.000 por mês, levam líquido R$ 1.600 e deixam R$ 400 no salão. “Se fossem registradas, receberiam, no máximo R$ 800. E isso para fazer dez ou 100 mãos. Elas não iriam se sentir motivadas, e acabam preferindo assim.”
Questionado sobre o fato de elas não terem direito a seguro-desemprego, auxílio-maternidade ou, ainda, dia remunerado em caso de doença, ele diz que as orienta a se precaverem. “Sempre digo que elas guardem parte do dinheiro em caso de emergência. Da mesma maneira, lembro do INSS, que neste caso tem de ser pago por fora. Mas sempre que precisam faltar, também existe flexibilidade.”
O retrato da informalidade da região mostra também que a escolaridade de quem não é registrado é menor. “Quem é formalizado possui, em média, 11,55 anos de estudo, contra 8,43 anos do informal. Esse tempo equivale ao Ensino Médio e ao Ensino Fundamental, respectivamente”, explica o coordenador do Inpes/USCS, Leandro Prearo.
Mulheres são maioria entre informais
Dentre os trabalhadores da região que não possuem registro em carteira, as mulheres são maioria, respondendo por 50,8% do total.
De acordo com o coordenador do Inpes/USCS, Leandro Prearo, a predominância pode refletir o bom momento da economia. “O aumento do poder de compra das pessoas gerou a inserção de muita gente no mercado de trabalho, principalmente de donas de casa, que passaram a cozinhar para fora, também, ou a exercer atividade paralela aocuidado do lar, mesmo que informalmente, para elevar os rendimentos”, explica.
A predominância também se deve ao fato de as profissões que lideram o ranking da informalidade serem, em grande parte, executadas por representantes do sexo feminino.
ESTABILIDADE
Prearo ressalta, entretanto, que a entrada no mercado de trabalho não implica aumento da informalidade. Ao vislumbrar mais oportunidades de negócios, com o mercado interno aquecido,mais pessoas começam a trabalhar, com ou sem registro.
Prova disso é que, desde fevereiro de 2004 (considerando apenas as cidades de Santo André, São Bernardo e São Caetano), os percentuais de trabalhadores formais e informais da região vêm se mantendo. À época, 61,9% eram formais e 38,1%, informais. Em fevereiro deste ano foi notada estabilidade na estatística, pois 60,9% eram formais e 39,1%, informais.
Considerando as sete cidades (quando a pesquisa foi iniciada, em 2004, ela não abrangia toda a região), em agosto do ano passado 62,4% tinham registro em carteira e 37,6%, não. Em fevereiro, os percentuais foram de 62,3% e 37,7%, respectivamente.
Dentre os profissionais com CLT, por sua vez, existem mais homens que mulheres. Quase 70% pertencem ao sexo masculino.