Para evitar surpresas em plenário, especialmente na eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados, o governo federal já acena, nos bastidores, com a possibilidade de um salário mínimo superior a R$ 540. As negociações com as centrais sindicais dão como certo um reajuste de mais R$ 3, por conta do índice da inflação no ano passado, que fechou 0,5% acima da previsão. Internamente, interlocutores do Planalto admitem que o pequeno aumento não seria o suficiente para diminuir o atual clima de divisão da bancada aliada e abrem brecha para negociar um valor final de R$ 550.
A possibilidade de rever o valor estabelecido pelo Ministério do Planejamento foi admitida pelos principais interlocutores do Executivo na Câmara, com o intuito de pacificar o PMDB. O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), assumiu que um mínimo de R$ 543 seria necessário para manter o acordo com as centrais sindicais. Já o presidente da Câmara e candidato à reeleição, Marco Maia (PT-RS), colocou o tema sobre a mesa em reunião com o PDT, ontem, em São Paulo.
O deputado gaúcho ouviu dos parlamentares um pedido para que o governo reabrisse as negociações pelo novo salário base da economia. Para unificar o partido em torno de sua candidatura à Presidência, Maia admitiu conversar com o Planalto, caso seja eleito em 1º de fevereiro. Na saída do encontro, declarou que espera um entendimento entre governo e parlamentares, mas que não pretende evitar o debate sobre o tema em plenário, que deve ocorrer somente depois do carnaval, em março.
Leilão
Os pedetistas, assim como os deputados do PMDB, defendem um salário de pelo menos R$ 560. A Força Sindical, de olho na briga interna entre PT e PMDB, aumentou a pressão para que o valor fique em R$ 580. “Se o governo negociasse e nos mostrasse que não dava para bancar os R$ 580, tudo bem, mas não houve conversa . Atualizar em R$ 3 é obrigação. Esse valor não dá nem para tomar uma pinga”, reclama o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP).
Nos últimos dias, o PMDB diminuiu o tom de cobranças sobre o reajuste. Mesmo assim, não admite manter a proposta atual, de R$ 540. O deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), escalado pelo partido para elevar o tom nas negociações, prefere adiar o debate público para a votação em plenário. Mesmo assim, descarta aprovar o aumento pretendido pelo governo federal.
“Que o mínimo não vai ficar em R$ 540, isso é claro. Esse dado de que o INPC foi 0,5% superior ao previsto só corrobora a tese de que nem a reposição inflacionária está sendo respeitada no cálculo do valor. Como a votação será apenas em março, já teremos uma expectativa da arrecadação para pautar um valor justo”, defende Cunha. Diante da ameaça do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de recomendar o veto a qualquer aumento superior ao sugerido, o deputado federal ameaça apresentar uma proposta de emenda constitucional (PEC) suavizando as regras para derrubar vetos do presidente.
Pesos e medidas
O acordo fechado pelo governo e as centrais sindicais prevê reajuste do mínimo segundo o índice de inflação do ano mais o crescimento do PIB no ano anterior. Como em 2009 a economia foi afetada pela crise mundial e encolheu 0,6%, o reajuste que deveria ser fechado para o mínimo teria apenas a atualização salarial pela alta dos preços. Ou seja, ficaria em R$ 543. O Planalto defende que o valor é necessário para manter as contas equilibradas. As centrais entendem que o governo poderia antecipar um aumento maior com base no crescimento do PIB em 2010, que deve ficar em torno de 7%.
Fonte: Correio Braziliense