NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

O propósito, já bastante generalizado, de desmantelar o Estado de Bem Estar Social na Europa, construído após a Segunda Guerra como resultado das lutas da classe trabalhadora e dos desafios colocados ao capitalismo pelo socialismo soviético, está dividindo opiniões e acirrando a luta de classes na região.

Um dos alvos principais da ofensiva neoliberal, que recrudesceu com a crise da dívida, é constituído pelas conquistas no plano da Previdência. Ontem, 7, o primeiro-ministro da Suécia, Fredrik Reinfeldt, provocou polêmica no país ao sugerir a ampliação do limite máximo de idade para aposentadoria de 67 para 75 anos, alegando dificuldades em manter o alto padrão de vida sueco diante do envelhecimento da população local.

Mídia a favor dos trabalhadores

Os comentários do premiê, que lidera uma coligação direitista, foram criticados em editoriais dos principais jornais do país nesta quarta, assim como pela oposição e sindicatos. Segundo uma pesquisa divulgada por uma TV local, 73% dos suecos seriam contra a medida.

Embora partidos de direita, explorando demagogicamente o drama do desemprego, tenham vencido as últimas eleições, a Suécia tem forte tradição social-democrata, o que explica a reação singular dos meios de comunicação do país, bem distinta dos monopólios midiáticos que atuam por aqui respaldando todo e qualquer tipo de iniciativa reacionária contra a classe trabalhadora.

Retrocesso histórico

Para Reinfeldt, os suecos devem se preparar para trabalhar muito mais. Ele quer um aumento de sete anos na idade mínima para a aposentadoria, o que traduz um retrocesso cavalar nas relações trabalhistas e nas conquistas sociais arrancadas ao longo das últimas décadas.

Ele argumenta que o sistema de aposentadoria “não é baseado em mágica, e sim no trabalho dos cidadãos e na redistribuição dos recursos em larga escala. Se as pessoas acham que podem viver mais tempo e diminuir seu tempo de serviço, então terão que aceitar que as pensões vão ser mais baixas. Será que as pessoas estão preparadas para isso? Acho que não”, disse em entrevista ao jornal Dagens Nyheter.

A burocracia e o operáriado

Assim como outros apologistas da reforma das aposentadorias, o premiê aponta o envelhecimento do país, que amplia o número de aposentados em relação à população economicamente ativa. Calcula-se que, em 2030, um em cada quatro suecos terá mais de 65 anos.

É o mesmo pretexto apresentado por outros governantes europeus como justificativa para o retrocesso. As vítimas no caso, trabalhadores e trabalhadoras, obviamente não comungam do mesmo pensamento reacionário. Especialmente os operários e trabalhadores mais humildes.

“Para aqueles que vivem no meio político, como o premiê, trabalhar além dos 65 anos significa ocupar altos postos em conselhos de administração de empresas, ou trabalhos muito bem pagos em consultoria. Mas, para um operário ou funcionário de hospital, que sente que os joelhos e as costas já não funcionam tão bem com a idade, a história é outra”, criticou o jornal Aftonbladet.

Alto padrão de vida

País que ganhou a reputação de modelo do socialismo pregado pela social-democracia, onde a expectativa de vida é de cerca de 80 anos, a Suécia tem um dos melhores padrões de qualidade de vida do mundo: é a 10º entre as nações com mais alto IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), lista em que o Brasil aparece em 84º.

Também possui um sistema flexível de aposentadoria, pelo qual os suecos podem se aposentar a partir dos 61 anos ou decidir trabalhar até, no máximo, os 67 anos de idade. Segundo a agência de estatísticas sueca, apenas 7,8% dos suecos com mais de 65 anos estavam empregados em 2010.

A porta-voz do premiê, Roberta Allenius, disse à BBC Brasil que os comentários de Reinfeldt não representam uma proposta concreta, e sim um ponto de vista para o debate sobre o envelhecimento populacional e a manutenção dos altos padrões de vida na Suécia.

“Não há nenhuma decisão política nesse sentido, mas o debate é necessário”, disse. Reinfeldt sugeriu que os suecos provavelmente terão de estar dispostos a mudar de carreira se necessário, de forma a ter uma vida profissional mais longa.

A líder do Centerpartiet (Partido do Centro), Annie Lööf, que integra a coalizão de governo, defendeu parcialmente a visão do primeiro-ministro.

“A grande pergunta é: Como seremos capazes de manter o nível das pensões quando o boom do envelhecimento acontecer, em breve? É um desafio gigantesco”, disse Annie Lööf, acrescentando que uma eventual extensão da idade para aposentadoria não deveria ser compulsória.

“Aqueles que conseguirem devem ter a possibilidade de continuar a trabalhar, e aqueles que não têm condições devem poder se aposentar.”

E o desemprego?

Já a deputada Wiwi-Anne Johansson, do partido Social-Democrata, opinou que esperar que as pessoas trabalhem até os 75 anos é uma prova de “desconexão com a realidade”.

“Uma coisa é certa: muitos sequer têm condições de trabalhar até os 65 anos. O que precisamos é de mais empregos. Não podemos ter uma taxa de desemprego de 8% a 9%. Se mais pessoas entrarem no mercado de trabalho, penso que conseguiremos solucionar uma grande parte do problema”, declarou a deputada.

Seria bom acrescentar que a manutenção de idosos no mercado de trabalho, subtraindo-lhes o direito à aposentadoria, evidentemente reduz a oferta de postos de trabalho no mercado e contribui, deste modo, para a manutenção da taxa de desemprego em patamar elevado (como ocorre agora), sobretudo entre os jovens, que sofrem mais com a carência de emprego. A deputada social-democrata está coberta de razão. O primeiro-ministro direitista está mirando o alvo errado. O que a Suécia precisa, a exemplo de outros países europeus, “é de mais empregos”. Aliás, foi também o que a direita prometeu ao eleitorado sueco para vencer as eleições.