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REBELIÃO ALIADA
 
Paranaense aproveita a insatisfação da base com o Planalto e articula a rejeição de desafeto para a direção da Agência Nacional de Transportes

Numa rebelião da base aliada articulada pelo senador paranaense Roberto Requião (PMDB), o Planalto sofreu ontem sua primeira grande derrota no Senado desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu o cargo, em janeiro do ano passado. Por 36 votos a 31, foi rejeitada a recondução de Bernardo Figueiredo para a diretoria-geral da Agência Na­­­cional de Transportes Ter­­­restres (ANTT), defendida pelo governo federal. Agora, o governo terá de propor outro nome para a ANTT.
 
A rebelião foi conduzida principalmente pelo PMDB. Depois que deputados do partido assinarem manifesto com críticas e cobranças ao governo, parte da bancada no Senado decidiu usar a indicação de Figueiredo para revelar a insatisfação – e aproveitaram a votação secreta, que permite as dissidências sem eventuais retaliações do governo.
 
“Foi um posicionamento político de pessoas que estão insatisfeitas. O governo vai avaliar o que fazer. Existem insatisfações em vários partidos que foram manifestadas no voto secreto”, admitiu o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). “A gente tem que entender o recado, aprofundar as relações políticas e acabar com as defecções.”
 
Um dos principais comandantes da rebelião dos partidos da base foi Requião. Com acusações contra Figueiredo, o ex-governador do Paraná mobilizou a bancada peemedebista para derrubar o nome do diretor. Na reunião da bancada esta semana, o senador fez um apelo aos colegas de partido para que rejeitassem a indicação. “O senhor Bernardo Figueiredo é completa e absolutamente inadequado pelos interesses que ostensivamente defende”, disse o senador.
 
Requião vinha levantando suspeitas de irregularidades supostamente cometidas por Figueiredo. Segundo o senador, há acusações de que Figueiredo teria ações de quatro empresas privatizadas nas concessões de ferrovias – área de responsabilidade da ANTT. “A informação que tenho é que suas ações foram vendidas para offshores”, disse recentemente Requião em sessão no Senado.
 
Na ocasião, outro ponto questionado por Requião era sobre a composição da Valec (a estatal de ferrovias). “A Valec tem 370 funcionários, 250 são comissionados e a informação que tenho, a ser verificada, é que são indicados por empresas ferroviárias privatizadas”, afirmou o paranaense à época.
 
Os argumentos de Requião encontraram eco em uma base insatisfeita com a relação com o Planalto. Aliado de Dilma, o senador Pedro Taques (PDT-MT) fez ontem um duro discurso contra a indicação de Figueiredo. “Sou contra a sua indicação. Ele é incompetente. Não existe princípio da presunção da inocência quando as leis falam em reputação ilibada.”
 
Caso anterior
 
Os atritos entre Requião e Figueiredo são anteriores ao atual mandado do paranaense como senador, iniciado no ano passado. Em fevereiro de 2010, quando era governador do Paraná, Requião acusou o diretor da ANTT e o paranaense Paulo Bernardo (que era ministro do Planejamento) de terem proposto a ele o superfaturamento de uma obra ferroviária no Paraná. O esquema consistiria em repassar R$ 550 milhões para que uma empresa privada construísse o ramal ferroviário entre os municípios paranaenses de Ipiranga e Guarapuava. Requião argumentava que o trecho custaria apenas R$ 150 milhões.
 
Paulo Bernardo, hoje ministro das Comunicações, negou a acusação e processou Roberto Requião. No ano passado, a Justiça condenou o ex-governador a pagar R$ 40 mil a Bernardo por acusações infundadas.