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A estatal, que neste ano reajustou tarifas e restabeleceu a vigência do acordo de acionistas, planeja operar em mais municípios e diversificar atividades

Encerrado um conflito de oito anos com os sócios minoritários, a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) se vê mais à vontade para tocar seus planos de expansão. A estatal, que nos últimos meses reajustou a tarifa e restabeleceu a vigência do acordo de acionistas ignorado pelo governo passado, quer ganhar espaço em suas atividades tradicionais (água tratada e coleta e tratamento de esgoto), ampliando o número de municípios atendidos – atualmente ela opera em 344 dos 399 do estado. Mas também planeja reforçar sua presença em um segmento no qual atua de maneira tímida, mas que considera promissor: a gestão de resíduos sólidos, por meio da operação de aterros sanitários e reaproveitamento de lixo.

Uma das primeiras atitudes da diretoria que assumiu neste ano foi formar uma força-tarefa com 70 técnicos, da Diretoria de Investimentos e de outras áreas, para acelerar a elaboração de projetos. Só assim, explica o presidente da estatal, Fernando Ghignone, será possível concretizar o planejamento anunciado em julho, que prevê investimentos de R$ 2 bilhões até 2014. “Herdamos uma empresa que não tinha sequer um projeto na prateleira”, diz Ghignone. Segundo ele, nos últimos quatro anos a Sanepar investiu uma média de R$ 4 milhões por ano na elaboração de projetos; no primeiro semestre da nova gestão, já foram licitados R$ 23 milhões para esse fim.

Metas

Na área de coleta e tratamento de esgoto, a Sanepar tem a meta de elevar de 62% para 72% o índice de atendimento em sua área de atuação. “Hoje atendemos 62% da população, mas apenas 40% dos municípios. É um déficit que resgataremos, em parte. O projeto é chegar a 60% deles até 2014”, diz Ghignone. Ele promete empenho para levar a companhia aos 55 municípios paranaenses onde ainda não opera – Rio Branco do Sul, na região metropolitana de Curitiba, pode ser o primeiro. “Conta a nosso favor nossa capacidade de investimento, algo que a maior parte das prefeituras não tem.”

Recursos

Pouco mais de R$ 1,7 bilhão do investimento projetado para os próximos anos já está “garantido”, nas palavras do executivo. Esse volume, a ser investido até 2013, é composto por 30% de recursos próprios, 45% de fontes externas e uma fração de 25% a ser definida: pode ser capital próprio, financiamentos de bancos públicos e agências internacionais ou mesmo do mercado de capitais. Essa última opção, ressalva Ghignone, depende da conclusão do processo de reestruturação da empresa.

Uma das fontes externas é o Banco Nacional de Desen­­vol­­vimento Econômico e Social (BNDES) e seu braço de participações, a BNDESPar, que comprarão o lote de R$ 395 milhões em debêntures (títulos de dívida privada) que a Sanepar vai emitir, com resgate entre 10 e 13 anos.

Aperto

Ghignone também conta com recursos federais, a fundo perdido, para o atendimento a pequenos municípios, onde a cobrança de tarifa não cobre o investimento – a empresa pleiteia perto de R$ 250 milhões para 2012. Mas, em reunião com a bancada paranaense no Congresso, ele soube que o governo pode fechar essa torneira em nome do aperto fiscal – em 2010, os repasses federais para saneamento em todo o país já haviam despencado 40%. Uma alternativa em estudado é a locação de ativos. “Nessa modalidade, uma empresa privada faz todo o investimento e a Sanepar paga pela locação. É uma forma de agilizar o esgotamento sanitário nos municípios menores”, diz.

 

Gestão

Reestruturação cria três gerências

Embora tenha no horizonte a possibilidade de levantar recursos em bolsa de valores, por meio da emissão de novas ações, a Sanepar só vai levá-la adiante após concluir seu processo de reestruturação, afirma o presidente, Fernando Ghignone. Ele diz que, depois de um “diagnóstico” que durou 90 dias, já foram adotadas medidas para agilizar a gestão da companhia.

Uma delas foi a criação de mais três gerências gerais – em Maringá, Cascavel e Ponta Grossa –, para distribuir melhor o trabalho, antes concentrado nas gerências de Curitiba e Londrina. Além dessas, há 19 gerências regionais espalhadas pelo estado. “As gerências gerais vão filtrar as demandas mais prementes da comunidade, trazendo ao âmbito da diretoria apenas as questões mais importantes e ligadas ao planejamento estratégico”, explica o executivo.

A Publix, uma empresa de Minas Gerais contratada há dois meses, participa da reestruturação. Junto com um grupo de profissionais da própria Sanepar, ela prepara o esboço de uma nova estrutura administrativa, que depois será proposta à diretoria. “A ideia é termos uma empresa moderna, enxuta, e, acima de tudo, ágil e eficiente”, diz Ghignone. (FJ)

Receita

Tarifa ainda está defasada

O reajuste de 16% na tarifa, que entrou em vigor em abril, já ajudou a Sanepar a elevar seu lucro, mas ainda não foi suficiente para cobrir a defasagem acumulada após seis anos de “congelamento”. Segundo a atual direção da empresa, em 1º de janeiro o déficit tarifário era de 33% – ou seja, a tarifa cobrada do consumidor era inferior ao “custo real” de atendê-lo.

“Nos últimos cinco anos, a Sanepar deixou de arrecadar R$ 1,3 bilhão ao não elevar a tarifa. É um dinheiro que deixou de ser investido. Ele seria suficiente para fazer o esgotamento sanitário em metade dos municípios de até 50 mil habitantes que ainda não são atendidos”, revela Fernando Ghignone, presidente da estatal.

Após atingir a marca de R$ 260 milhões em 2003, o lucro líquido anual caiu por sete anos consecutivos. Agora, a tendência é de que ele suba: o ganho de R$ 144 milhões apurado no primeiro semestre foi superior ao acumulado em todo o ano passado (R$ 136 milhões).

Além do reajuste, o resultado foi alimentado pelo corte de custos determinado pelo governador, que gerou economia de R$ 37 milhões no semestre, pelo aumento do consumo de água e pela expansão da rede. (FJ)