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O cenário de reajustes salariais mais modestos devido à combinação de inflação mais alta e atividade mais moderada não chegou a Sapiranga, no Rio Grande do Sul, tradicional reduto da indústria de calçados femininos no Estado. Os mais de 22 mil trabalhadores do setor na cidade gaúcha tiveram seus salários reajustados em 11% no mês passado – uma alta de 4,5% acima da inflação.

O acordo é um dos maiores conquistados pelo Sindicato dos Sapateiros de Sapiranga desde 1986, quando o grupo ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) venceu pela primeira vez as eleições. O reajuste, porém, não será facilmente absorvido por todas as companhias. Um empresário afirmou à reportagem que o reajuste terá impacto de 7% no custo da folha salarial de sua empresa.

Segundo Leandro dos Santos, secretário de formação do sindicato dos trabalhadores, o acordo e, principalmente, o salto entre os reajustes conquistados em 2010 e 2011, ocorreu porque os empresários não estão conseguindo encontrar trabalhadores na quantidade que precisam. “A produção está crescendo muito e está faltando trabalhador”, diz Santos. De acordo com o sindicalista, a cidade de Sapiranga e a região do Vale dos Sinos, famoso polo produtor de calçados femininos, está assistindo a um retorno “em massa” das pessoas que deixaram a região nos últimos anos.

Quando a valorização do real se aprofundou, a partir de 2005, ao mesmo tempo em que o desembarque de manufaturados chineses se acelerava, regiões como o Vale dos Sinos, famosos por concentrar fabricantes de bens tradicionais – como calçados e vestuário – sofreram com o fechamento de empresas e o “êxodo” de trabalhadores para outras cidades e serviços. “Isso começou a mudar no fim de 2009, mas se acelerou muito no ano passado”, diz Santos, “mas ainda não temos mão de obra para oferecer às empresas na quantidade que elas precisam”.

O Valor conversou com cinco empresas da cidade. Todos confirmaram o elevado reajuste salarial concedido, mas apenas um empresário aceitou falar sobre o assunto, sem, no entanto, se identificar. O empresário, diretor de uma grande indústria do setor em Sapiranga, afirmou que as empresas estão pressionadas. “O ritmo da demanda interna está muito acelerado, deixando as fábricas próximas do limite para atender os pedidos”, diz ele, que teme, no entanto, uma “leve reversão” na economia ao longo do ano. “O crescimento não virá mais na proporção de 2010, o próprio governo se esforça para reduzir o ímpeto. Se o ritmo cair mesmo, ainda que não drasticamente, ainda teremos de honrar uma folha de pagamentos inflada por esse enorme reajuste de 11%”, afirma.

Para Santos, as negociações deste ano foram “uma das mais fáceis em muitos anos”, uma vez que, segundo o sindicalista, os empresários ofereceram reajuste de 2,5% acima da inflação logo na primeira reunião. “Como falta mão de obra, não há inflação que atrapalhe os planos dos empresários”, diz ele.

Segundo Rogério Dreyer, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), o acordo em Sapiranga “será assunto” em todo o país. “Todas as negociações no setor falarão dele, mas a verdade é que cada região tem uma realidade salarial”, afirma Dreyer, para quem o reajuste salarial de 11% deve ser entendido sob a perspectiva regional. “Nem todas as empresas de Sapiranga conseguirão absorver os custos novos, então isso [o reajuste] pode não ser passado à frente em todo o país”, diz.

Fonte: Valor Econômico