NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

Os serviços estão custando cada vez mais no Brasil. Apesar dos esforços do Banco Central para frear a economia e a escalada da inflação, em 12 meses, até agosto, os preços no setor subiram, em média, 9%, superando a inflação oficial do período, de 7,23%. Pagou ainda mais caro quem precisou de serviços pessoais, como bancários e de cabelereiro, manicure e costureira: a alta foi de 11%. Para os consumidores, o custo é o maior dos últimos 14 anos. Sem opção, o brasileiro não só tem pagado mais para usufruir desses benefícios, mas também enfrentado longas filas. Nos salões de beleza, por exemplo, é quase impossível conseguir atendimento imediato e, em muitos casos, os clientes precisam agendar horário com antecedência de, ao menos, uma semana.

Os canteiros de obras e o segmento de empregados domésticos são exemplos da pujança do setor. Os trabalhadores são disputados pelos patrões com promessas de salários cada vez mais elevados. Entre as três grandes áreas da economia, a de serviços foi também a que mais cresceu: 0,8% entre o primeiro e o segundo trimestre do ano, deixando para trás a indústria, que expandiu 0,2%, e a agropecuária, que encolheu 0,1%. Pelos dados do Produto Interno Bruto (PIB — soma de todas as riquezas produzidas no país), apenas no primeiro semestre, os serviços geraram uma fortuna de R$ 1,1 trilhão.

Em um ranking elaborado pelo Correio com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os serviços que mais subiram neste ano foram autoescola, com alta de 14,72%, hotel (13,28%), serviços bancários (12,24%) e estacionamento (10,07%). No ranking também figuram manicure (6,53%), creche (8,76) e pedreiro (6,27%). As justificativas dos trabalhadores do setor para tanta carestia estão, principalmente, no custo da execução do trabalho — gastos com equipamento, aluguel e mão de obra.

“O que está encarecendo o preço é um conjunto de fatores. O primeiro de todos é o valor do aluguel da loja. Um estabelecimento que, antes, custava R$ 300, hoje fica em R$ 700”, relata o cabeleireiro José Nilton Sodré, 38 anos, dono de um salão na Ceilândia. “Sem contar que os produtos de qualidade são caros. Os valores são repassados aos clientes. Não tem jeito”, observa. Ainda assim, as pessoas não se intimidam. Com mais dinheiro no bolso, elas investem em viagens, entretenimento, hotelaria, beleza e alimentação. Uma das clientes de Sodré, Carminha Farias, 27, foi ao salão para dar um novo visual no cabelo e diz que pretende voltar outras vezes ao local. “A minha renda tem acompanhado esse aumento e, agora, pretendo me cuidar mais”, planeja.

Renda

André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que o aumento dos preços reflete o aquecimento da economia brasileira. “Há crescimento expressivo da demanda porque existe uma massa de salário em expansão. Essa elevação na renda traz hábitos que, antes, muitas pessoas não tinham. Os indivíduos preferem trabalhar fora a realizar as tarefas em casa e, por isso, vão mais à manicure, ao cabeleireiro e ao barbeiro”, exemplifica. O economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central, diz que, além de se beneficiar do crescimento do país, o setor não sofre concorrência de importados. “Os preços dos serviços não são tabelados pelo dólar, não tem como importar manicure ou pedreiro”, pondera. “Além disso, as pessoas só vão parar de consumi-los se não tiverem mais como pagar, se a política monetária der um tranco forte na economia”, observa.

A falta de mão de obra qualificada também contribui para alavancar os preços. Joaquim Gomes Bezerra, 48 anos, é pedreiro há 30. Atualmente sem um emprego fixo, trabalha como autônomo. Para ele, a oferta de oportunidades é
grande, mas a ausência de profissionais capacitados tem sido a tônica na construção civil. “Os pedreiros cobram o dobro do preço quando estão fora das construtoras. Aqui no Distrito Federal, em Brasília, as obras são bem mais caras que nas outras cidades”, compara.

Com tantas remarcações, os serviços já representam 24% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado pelo BC como referência na política de metas. “É uma inflação atrelada ao passado. O segmento é muito indexado. O nível a que se chegou atualmente é elevadíssimo. Na véspera da crise de 2008, a carestia acumulada de serviços estava próxima a 6%. Agora, está em 9% e com pouco espaço para recuar”, argumenta Elson Teles, economista-chefe da gestora de recursos Máxima Asset Management.

José Ricardo da Costa e Silva, professor de economia do Ibmec, explica que o setor tem altas, também, por ser atrelado ao salário mínimo. “Quando ele sobe, esses serviços acompanham a elevação em cascata”, pondera. A seu ver, isso só aumenta os desafios para o Banco Central no próximo ano: a alta do piso em 2012 será de 13,61%, para R$ 619,21. O mecânico Laudimiro Coelho da Silva, 49, diz que, na sua área, outro fator que eleva os preços é o valor das peças. Ele afirma que elas chegam a custar duas vezes mais que a mão de obra. “Quando digo para os clientes o orçamento completo, eles não costumam reclamar. Mas, quando isso acontece, tento dar um desconto e a minha parte diminui, pois não posso fazer isso no caso dos equipamentos”, diz.

Concorrência

Pedro Messias Gomes, 46, tem uma mecânica no Recanto das Emas e criou o “cliente-fidelidade” para tentar amenizar os impactos da inflação. “Se o consumidor pagar por um serviço, ele ganha mais um. A loja ganha de um lado e o cliente, do outro”, garante. A manicure Núbia Nayara Mendes, 19 anos, que trabalha há dois em um salão de beleza no Sudoeste, avalia que, apesar das altas, a concorrência impede maiores ajustes. “Com cada vez mais empreendimentos no ramo, tentamos manter o preço mais acessível”, explica. Sua colega de trabalho, também manicure, Lais Reis de Oliveira, 19, conta que, desde que começou a trabalhar, não tem tido problemas. “As pessoas estão aceitando o que nós cobramos aqui. Acredito que os moradores do Sudoeste têm um maior poder aquisitivo e pagam sem reclamar”, diz.