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A empresa JBS é acusada de trabalho escravo do Brasil a Europa.

Na última semana, 10 trabalhadores foram resgatados de trabalho análogo a escravo em uma empresa contratada da JBS no município gaúcho de Arvorezinha. Eles eram responsáveis pela “apanha de frangos”, atividade de captura e encaixotamento de aves na empresa terceirizada, que era responsável pela etapa de criação e engorda de frangos para a empresa brasileira.

A operação conjunta do Ministério do Trabalho, Ministério Público e Polícia Rodoviária Federal encontrou práticas de trabalho forçado, condições degradantes de moradia e alimentação, jornadas exaustivas e insalubres e servidão por dívidas. Os trabalhadores eram homens e jovens, entre 21 e 33 anos e provenientes de Pernambuco, Bahia e Maranhão.

A JBS declarou, em nota, ter suspendido o contrato com a empresa. O MPT continuará as investigações sobre a cadeia produtiva, com foco na unidade da JBS em Passo Fundo, que era abastecida pela referida empresa.

Histórico da JBS em Passo Fundo-RS

A unidade da JBS em Passo Fundo já acumula problemas relacionados à saúde e à segurança do trabalho. Em outubro de 2024, foi palco de um incêndio que se espalhou por um galpão de embalagens, mas, felizmente, não houve feridos. O Observatório de Saúde e Trabalho no Agronegócio relatou um aumento nos casos de incêndio no último ano no território nacional. Mais recentemente, a Repórter Brasil associou esses incêndios à falta de manutenção e aos cortes nos programas de prevenção de acidentes nas fábricas.

Em maio de 2020, a unidade de Passo Fundo da empresa tornou-se um centro de contágio da COVID-19, após registrar um surto da doença entre seus trabalhadores. Em junho de 2020, cerca de 20% dos funcionários de frigoríficos já haviam contraído a doença, que afetou desproporcionalmente suas famílias e comunidades.

Acordo do Mercosul com União Europeia

O resgate dos trabalhadores de Arvorezinha acontece em meio a uma série de debates sobre o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Na semana passada, um grupo de pesquisadores e ativistas brasileiros participou de uma audiência no Parlamento Europeu, marcando posição contra o acordo. Na ocasião, João Pedro Stédile, do MST, afirmou: “Tenham coragem de colocar freio na ganância das empresas europeias, que são os grandes produtores de agrotóxicos que estão envenenando a América Latina. Eu me refiro à Syngenta, Bayer, Basf e a DuPont”.

A denúncia de Stédile vai na esteira das pesquisas da geógrafa brasileira Larissa Bombardi, que analisou a relação entre as corporações de agrotóxicos europeias e seu impacto na exportação para o Brasil. Na Europa, os limites permitidos para o glifosato, o herbicida mais amplamente utilizado em território brasileiro, são 5.000 vezes menores do que no Brasil. O colonialismo químico permite que os fabricantes de agrotóxicos exportem para a América Latina substâncias cujo uso é proibido na União Europeia.

As consequências do acordo UE-Mercosul têm sido objeto de reflexão também na imprensa francesa. O Le Monde Francês traz uma análise de Anne-Dominique Correa sobre o impacto do acordo para a gigante da proteína animal JBS, beneficiada desde o início. De acordo com a ONG Mighty Earth, a JBS seria responsável pelo desmatamento de 118 mil hectares de floresta apenas entre fevereiro de 2022 e julho de 2024. Destacam-se, ainda, os problemas sanitários relacionados à forma de produção, que utiliza amplamente grãos transgênicos e o uso intensivo de agrotóxicos na alimentação dos animais. Esses agrotóxicos podem se bioacumular nos tecidos gordurosos de carnes e leite, causando câncer, problemas reprodutivos e más formações fetais.

Ainda há quem defenda o pacto, convencido de que ele, de alguma forma, possa proteger a agricultura familiar brasileira, uma vez que boa parte da avicultura e da suinocultura, por exemplo, conta com o trabalho de famílias de agricultores em todo o Brasil, por meio de sistemas de integração produtiva. Essas famílias ainda estão aprisionadas no paradigma do “agronegocinho”: enquanto as mega-corporações, oriundas dos programas das campeãs nacionais, colocam em prática a maior operação de concentração de capitais da história dos sistemas alimentares, famílias de criadores de frangos e porcos trabalham 18 horas por dia para atender às prescrições do agronegócio, que se tornam, a cada dia, mais inatingíveis. Trata-se de mais um típico caso brasileiro de uma fração da classe trabalhadora que pensa com o bolso do patrão, ainda que viva sob as condições de um lumpemproletariado agrário.

Como já destacamos antes, a cadeia de produção da JBS está carregada de problemas sociais e ambientais: trabalho infantil em frigoríficos dos EUA, desmatamento, grilagem de terras no cerrado e na Amazônia, infecções em massa por COVID-19 no Brasil e nos EUA, denúncias de trabalho degradante e precário, em geral associado a imigrantes vulneráveis, como o trabalho escravo de Arvorezinha, além de ter se tornado campeã de acidentes de trabalho no últimos anos.

Enfim, trata-se de um acordo do agronegócio brasileiro com colonialismo químico europeu, no qual as duas partes saem perdendo, já que jogamos água no moinho das piores práticas sociais brasileiras – do desmatamento da Amazônia ao trabalho escravo Made in Brazil – e das piores práticas europeias – do extrativismo que adoece ao esgotamento de solos e da biodiversidade. Estaremos mais distantes de um mundo habitável.

DM TEM DEBATE

https://www.dmtemdebate.com.br/trabalho-escravo-na-cadeia-produtiva/