Na presidência do G20 este ano, o líder brasileiro trabalha para emplacar junto ao grupo mais restrito entre as maiores economias projetos ambientais e de redução das desigualdades
Entre os dias 13 a 15 de junho ocorre na Itália a reunião de líderes da Cúpula do G7, que representa as sete maiores economias do mundo (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido). O presidente Lula foi convidado a participar, assim como líderes de outros países, a convite da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.
Antes de desembarcar na Itália, Lula participará na Suíça da conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que acontece até 14 de junho.
A presença de Lula é essencial na retomada da participação brasileira nos processos decisórios mundiais. Com a presidência temporária do G20, o governo brasileiro trabalha para emplacar uma governança global pela redução das desigualdades e de combate às mudanças climáticas a partir da taxação de bilionários.
Esta será a oitava vez que Lula participa da Cúpula do G7. Ele continua sendo o único líder brasileiro a ir a reuniões do grupo, sendo que foi seis vezes entre 2003 e 2009 e no ano passado no Japão.
O presidente francês fez o anúncio após derrota retumbante de seu partido nas eleições para a UE. O partido de Le Pen obteve o dobro dos votos da candidata de Macron
O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou a dissolução da Assembleia Nacional, após a vitória retumbante da extrema-direita do país nas eleições europeias, neste domingo (9). A lista do Reunião Nacional, do cabeça de chapa e presidente do partido, Jordan Bardella, obteve cerca de 31,4% dos votos, enquanto o partido de Macron obteve 14,6%.
“São tempos para esclarecimentos” disse Macron, em discurso transmitido no palácio do Eliseu. O francês classificou a extrema-direita como “nacionalistas e demagogos” e alertou sobre os perigos decorrentes de sua ascensão, não apenas “para nossa nação, mas para toda a Europa.”
“Hoje, os desafios a frente, sejam os perigos externos, as alterações climáticas e suas consequências, ou a ameaça à nossa própria coesão, estes desafios exigem clareza em nosso debate”, disse.
“A extrema-direita é ao mesmo tempo o empobrecimento dos franceses e o desmantelamento do nosso país. Então, no final do dia, eu não poderia fingir que nada aconteceu”, declarou Macron.
“É por isso que depois de ter realizado as consultas previstas no artigo 12 da nossa Constituição, eu decidi te devolver a escolha do nosso futuro parlamentar através da votação. Portanto, eu dissolvo nesta noite a Assembleia Nacional. Vou assinar em alguns momentos o decreto de convocação e eleições legislativas cujo 1º turno será realizado em 30 de junho e o 2º turno em 7 de julho”, anunciou o presidente.
A decisão de Macron gerou uma série de reações políticas dentro da França. A líder do Reunião Nacional, Marine Le Pen, disse que a extrema-direita está pronta para assumir o poder, enquanto o líder da esquerda, Jean-Luc Mélenchon, convocou uma frente ampla contra os neofascistas.
“Estamos prontos para exercer o poder se os franceses confiarem em nós nas próximas eleições legislativas”, assegurou Marine Le Pen, cujo partido lançaria Jordan Bardella como candidato a primeiro-ministro.
Bardella, de 28 anos, obteve uma vitória elástica sobre a candidata governista Valérie Hayer, que somou 14,6% dos votos deste domingo. O resultado do RN, um dos melhores de sua história, confirma também os esforços de Le Pen, para alçar ao poder o antigo Frente Nacional (Front National), que herdou em 2018 de seu pai, Jean-Marie Le Pen, conhecido por seus comentários racistas e antissemitas.
A grande vitória de Bardella antecipou os planos do RN que através do seu vice-presidente do partido, Sébastien Chenu, anunciou, nesta segunda (10), que o eurodeputado será o candidato do seu partido ao cargo de primeiro-ministro na França.
“Jordan Bardella foi eleito deputado europeu, portanto já tem a unção popular” e “é o nosso candidato para ir para Matignon”, nome da residência oficial do primeiro-ministro, declarou à imprensa.
Do outro lado do espectro político, o líder do Partido França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, deu razão a decisão de Macron em dissolver o legislativo e afirmou que o presidente não possui mais legitimidade para governar.
“Quando somos rebeldes, não tememos o povo. Pelo o contrário”, disse o líder França Insubmissa, na noite de domingo. “Ele já não tem legitimidade para continuar a sua política. Já não tem legitimidade para continuar o sistema de maus-tratos sociais generalizados em que está envolvido”, declarou.
Seu correligionário, François Ruffin, deputado da França Insubmissa na Assembleia Nacional dissolvida por Macron, apelou às forças de esquerda para “apoiarem uma barreira comum” que seria chamada de “Frente Popular”. “Somos capazes de uma onda, podemos vencer”, garante. Manon Aubry, chefe da lista La France Insoumise para as eleições europeias, declarou que “o Presidente da República tomou nota esta noite da sua derrota contundente”.
Dos 81 assentos, o partido Reunião Nacional (Rassemblement National, em francês) ficou com 30 lugares, de acordo com estimativas realizadas pela consultoria Verian. Já a lista apoiada pelo partido de Macron, o Renascimento (Renaissance, em francês), contabilizou 13 cadeiras em Bruxelas, mesmo número alcançado pelo partido Socialista que obteve 13,8% dos votos, segundo as projeções.
Os resultados preliminares indicam que a bancada francesa será distribuída da seguinte forma:
Walter Sorrentino, presidente da Fundação Maurício Grabois, faz um balanço do ciclo de debates “Reindustrialização do Brasil e a Estratégia de Desenvolvimento Sustentável e Soberano”
A Fundação Maurício Grabois (FMG) promoveu, em 5 e 6 de junho, o ciclo “Reindustrialização do Brasil e a Estratégia de Desenvolvimento Sustentável e Soberano”. Com foco no debate sobre a Nova Indústria Brasil (NIB), as mesas reuniram nomes como a ministra Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação) e o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
Nesta entrevista ao Vermelho, o presidente da FMG, Walter Sorrentino, faz um balanço de ciclo e detalha aspectos relevantes sobre os rumos da indústria nacional. “O consenso é de que a industrialização é o vetor dominante para a retomada do desenvolvimento do país”, afirma. Leia abaixo a entrevista.
Vermelho: O ciclo da Fundação Maurício Grabois reuniu debatedores ligados ao governo, ao meio acadêmico, à indústria e aos trabalhadores. Existe algum consenso nas visões desses diferentes atores?
Walter Sorrentino: Os participantes convergiram sobre os pontos positivos do Programa da NIB e que a reindustrialização em novas bases tecnológicas é vetor central para a política desenvolvimentista. Não faltaram, nesse sentido, referências ao ciclo histórico e político do Brasil entre 1930 e 1980 e a desindustrialização iniciada no País desde o fim dos anos 1980, com a crise da dívida e, posteriormente, o Plano Real. Isso abrangeu tanto a primeira mesa – personagens da política, da sociedade civil e intelectuais – como a segunda, composta de destacados atores do mundo sindical.
O consenso é o de que a industrialização é o vetor dominante para a retomada do desenvolvimento do País. E isso integra a luta pela constituição de um novo projeto nacional ao Brasil para afirmar com autodeterminação sua soberania, voltada à superação das desigualdades sociais e regionais, para elevar a condição de vida material e espiritual de todos os brasileiros. Enfim, servir à vida das pessoas, pois, como foi ressaltado, não vamos superar as desigualdades sem a reindustrialização.
Vermelho: O que podemos tirar de lições da nossa prolongada desindustrialização?
Sorrentino: Um ponto de partida rico do debate foi exatamente isso, sobretudo no que se refere à política macroeconômica e à inserção do Brasil no mundo. A principal é que o papel do Estado é elemento central e indispensável para a reindustrialização, como indutor e promotor de investimentos em primeira instância, amealhando também investimentos privados, para coordenar e sustentar o projeto. Isso não convive com o tripé macroeconômico do Consenso de Washington, nem com a austeridade fiscal como é pregada por essa hegemonia.
Vermelho: As condições para o programa da NIB estão dadas hoje?
Sorrentino: A experiência acumulada pelos participantes do Ciclo permitiu expor um amplo cardápio dos desafios envolvidos – a começar pelo reconhecimento das medidas positivas e bem direcionadas do governo Lula 3. Entretanto, uma tônica geral e consensual se voltou para a necessidade de mais foco, coordenação institucional e capacidade de realização do governo, seja nas missões proposta no Programa da NIB, seja no contorno institucional e econômico. Nesse sentido, foram consideradas extremamente relevantes e necessárias medidas como a importância da Petrobras, os custos da energia e, em especial, o planejamento como arma indispensável à coordenação e implantação do projeto.
Ao mesmo tempo, foram bem evidenciados óbices e limites existentes. Isso abrangeu proposições sobre transformações institucionais necessárias ao Estado brasileiro para impulsionar a reindustrialização, as questões de política macro e microeconômica, os desafios de superar o hiato tecnológico num mundo conturbado, mormente quanto ao protecionismo dos países mais ricos. Nessa rota, a ciência, tecnologia e inovação representa um polo decisivo para ultrapassar o atual patamar da indústria brasileira. Aliás, registre-se, ninguém demoniza a automação crescente – ao contrário, resguardados direitos e considerado que a indústria hoje está também nos serviços e no agro, exatamente pelas novas tecnologias.
Vermelho: A segunda mesa trouxe o ponto de vista dos trabalhadores. O que sobressai na análise do movimento sindical?
Sorrentino: No concernente aos líderes sindicais, evidentemente compareceram as pautas trabalhistas fundamentais: melhores empregos, contra a precarização do trabalho, redução da jornada sem redução salarial. Interessante notar que em ambas as mesas se registra a crítica à pauta dos setores industriais nos últimos 30 anos, desde o Plano Real, pelo Estado mínimo, tributos mínimos, direitos mínimos. Uma pauta que os levou a serem mais desempoderados ainda politicamente, sob a batuta financeira. Isso levou à desindustrialização e à desnacionalização.
Vermelho: A sociedade brasileira está ganha para um projeto tão estratégico como o da Nova Indústria Brasil?
Sorrentino: A NIB ainda não é um consenso nacional. Uma luta política e social é necessária para fazê-la exitosa. Ela precisa ser mais que uma política de governo, no sentido de se tornar uma política de Estado e, portanto, carece de uma pactuação entre o mundo da produção, o mundo do trabalho e a sociedade brasileira. Sem isso, não há maioria política e social de apoio, indispensável para confrontar forças que sustentam o caminho da dependência e estagnação.
Vermelho: O Ciclo de Debates cumpriu seu objetivo?
Sorrentino: Sim. Nossa Fundação dá uma contribuição nessa luta política, voltada para superar a dispersão política das forças progressistas e ajudar, com apoio e crítica construtiva, a levar a êxito o governo Lula 3. É gratificante ter reunido atores tão importantes da vida nacional – o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), a CNI (Confederação Nacional da Indústria), as centrais Sindicais, intelectuais, partidos e movimentos sociais. Unir todos em torno dessa bandeira, comprometidos com um novo projeto nacional, é um passo na direção necessária, conforme o Ciclo evidenciou. Outros mais virão.
A importante derrota do governo nas votações dos vetos presidenciais no Senado e na Câmara dos Deputados no dia 28 de maio mostra não só que a correlação de forças é adversa para a centro-esquerda – que reúne não mais que 130 deputados, o que é fato mais do que conhecido (no Senado o cenário não é muito diferente) – mas que a articulação política do governo com sua base ampliada falhou fragorosamente. Como muitos apregoam e defendem, tarefa urgente é arrumar a casa, se Lula não quiser enfrentar novas crises no Congresso.
Mas não basta, como muitos propõem, recompor a articulação política e ajustar o ministério, decisões exclusivas do presidente da República. O governo Lula precisa retomar a aliança com a frente de partidos que elegeu. E, para isso, tem de apresentar um programa de desenvolvimento do país objetivo e factível, capaz de mobilizar em torno dele os diferentes setores da sociedade: empresariado, trabalhadores, academia e classes médias. O governo tem instrumentos e competência para isso.
Já existem os instrumentos para construir este programa. O que falta ao governo é foco e interlocutores com os diferentes segmentos da sociedade para engajá-los nas iniciativas que compõem o programa. Considero que os três eixos fundamentais desse programa de desenvolvimento são o Nova Indústria Brasil, desenvolvido pelo vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, e pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que precisa ter a prioridade que exige; o PAC, capitaneado pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, que concentra investimentos em energia, óleo e gás, Minha Casa, Minha Vida e obras de infraestrutura, prioritariamente; e o Plano de Transformação Ecológica, lançado pelo ministro Fernando Haddad durante a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), realizada em dezembro de 2023, em Dubai, nos Emirados Árabes. Cerca de uma centena de iniciativas relacionadas ao Plano serão apresentadas até a COP 30, que acontecerá em Belém (PA).
Não há saída para o Brasil sem um programa de desenvolvimento que impulsione o crescimento do país. E o Brasil tem tudo para crescer. A conjuntura internacional permite esse crescimento, o país atrai investimento externo, tem infraestrutura a ser construída, o turismo para expandir e uma indústria criativa pujante que demanda apoio para avançar, sem falar no tripé do programa de desenvolvimento.
Paralelamente, temos de concluir a reforma tributária e avançar em relação ao Imposto de Renda e à taxação do Lucro e Dividendo. São medidas fundamentais para a desconcentração da renda, vital para garantir a demanda interna. E temos que perseguir na queda dos juros. O pagamento do serviço da dívida é mortal para nós; no ano passado foram R$ 800 bilhões. Se os juros fossem menores e não estivessem alimentando a ciranda dos rentistas, o país teria mais recursos para investimento. Quando o país crescer mais que a inflação, a dívida pública vai estabilizar e vai cair.
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O tripé do programa
Resposta a um processo de desindustrialização do Brasil e ao baixo desenvolvimento e exportação de produtos com complexidade tecnológica, o Nova Indústria Brasil (NIB) estabelece metas específicas para seis missões, abrangendo os setores de infraestrutura, moradia e mobilidade; agroindústria; complexo industrial de saúde; transformação digital; bioeconomia e transição energética; e tecnologia de defesa. Cada missão possui áreas prioritárias para investimentos visando atingir as metas estipuladas até 2033.
Para o período de 2024-2026, o NIB contará com R$ 300 bilhões, além de medidas de estímulo para setores estratégicos como prioridade para produtos nacionais em compras públicas e outras relacionadas à desburocratização para reduzir o chamado Custo Brasil.
Com o NIB, o objetivo do governo é fortalecer a indústria brasileira e estimular a inovação, para que ela se torne mais competitiva e gere empregos mais qualificados. Nos últimos anos, seguindo a agenda neoliberal, o Brasil, como outros países da América Latina, fez um giro em direção à chamada especialização produtiva, ou ao aumento da capacidade exportadora de bens primários.
Dados do Relatório da CEPAL de 2022, relativos à produção de manufaturados na América do Sul, mostram que, no início do século 21, Brasil e México respondiam por ¾ partes do total de manufaturados exportados pela região. O Relatório chama a atenção especialmente para o caso do Brasil, segundo maior exportador regional de manufaturas: sua participação nos envios totais de bens caiu 27%, ao passar de 75% no triênio 2000-2002 para 48% em 2019-2021. Outros quatro países sul-americanos (Chile, Paraguai, Peru e Uruguai) também experimentaram quedas de dois dígitos no mesmo período.
Para que o NIB avance, é fundamental que haja uma efetiva articulação de agentes do governo com a indústria brasileira e parte do agronegócio. Não pode se repetir situações como a que está ocorrendo com um importante projeto de expansão do setor de energia eólica-solar em desenvolvimento no país em que todos os equipamentos são importados. O Brasil precisa retomar a tradição de casar seus grandes projetos com o desenvolvimento local, como ocorreu com as plataformas e sondas na indústria do petróleo, com a indústria naval e a construção civil. As grandes empreiteiras do país tinham know how para disputar licitações no exterior até serem destruídas pela Lava Jato.
Já o PAC elegeu como prioridades, em volume de recursos, as cidades, onde está o Minha Casa, Minha Vida, com R$ 601 bilhões no período 2023-2026 (quase metade do investimento total, que é de R$ 1,3 trilhão, mais R$ 0,4 trilhão após 2026), o setor de transição e segurança energética (R$ 596,2 bilhões) e o de transporte (R$ 369,4 bilhões).
Ao apresentar o Plano de Transformação Ecológica, Haddad disse que os primeiros estudos da iniciativa privada indicam que ele poderia gerar de 7,5 a 10 milhões de empregos em todos os setores – com enfoque no segmento de bioeconomia, agricultura e infraestrutura –, e oportunidades de geração de renda.
No entanto, para concretizar esse cenário, os mesmos estudos estimam que o Brasil precisa de investimentos adicionais da ordem de US$ 130 a US$ 160 bilhões por ano ao longo da próxima década. Os aportes precisam ocorrer principalmente em infraestrutura para promover adaptações, produzir energia, aprimorar a industrialização e a mobilidade.
É um desafio possível de ser superado, dada a capacidade de mobilização de investimento e de criação de infraestruturas sustentáveis do Brasil via investimentos públicos. Temos exemplos de sucesso como a rede de hidrelétricas, o sistema elétrico unificado, a produção de etanol e a atuação da Petrobras e outras empresas nacionais de ponta na pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis.
Articulação necessária
O governo Lula já tem todos os elementos para colocar em marcha o programa de desenvolvimento do país. O que precisa é de um comando político subordinado diretamente ao presidente e com autoridade conferida por ele para levar à frente a missão de implementar as medidas contidas nos três eixos que compõem o programa, comando este que faça a interlocução com o empresariado, os trabalhadores, a sociedade civil e os demais segmentos sociais e que preste contas regularmente de sua missão.
Sem comando unificado e sem foco, como ocorre hoje, os programas anunciados e em andamento, por melhor estruturados que tenham sido, acabam perdendo seu impacto e importância. E seus resultados ficam aquém do previsto, justamente por falta de integração entre as diversas áreas de governo e falta de priorização de iniciativas.
As recentes derrotas do governo no Congresso são fruto da correlação de forças, em função das emendas impositivas do orçamento, sem nenhum compromisso dos partidos com o êxito das políticas públicas, e ao financiamento público de campanha. Como não tem maioria parlamentar, fica sujeito aos humores de um Parlamento conservador na pauta de costumes, liberal nas questões econômicas e sem nenhum escrúpulo em trocar voto por interesse político.
A crise pode ser amenizada com uma melhor articulação política, que passa também por uma mudança de postura do PT de unificar a atuação de seus deputados e senadores na defesa dos interesses do governo. Mas só será superada com um programa de desenvolvimento que coloque em campo, ao lado de Lula, todos os partidos e segmentos sociais que apoiaram sua candidatura no segundo turno. O programa de desenvolvimento tem de ser a base de um compromisso político da frente democrática – da esquerda à direita liberal – para assegurar o crescimento do Brasil, com desconcentração da renda e a justiça social.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
AUTORIA
JOSÉ DIRCEU Advogado e militante político, natural de Passa Quatro (MG), Dirceu iniciou sua militância política durante os anos de ditadura militar no Brasil, engajando-se no movimento estudantil. Foi presidente nacional do PT, deputado estadual por São Paulo de 1987 a 1991, deputado federal por São Paulo três vezes entre 1991 e 2005 e ministro-chefe da Casa Civil durante o primeiro governo Lula, em 2003.
Oficializado na quarta-feira (5) pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), o novo grupo de trabalho para elaboração do relatório do PL 2630/2020, conhecido como “PL das Fake News”, tem em sua composição 14 deputados que são contra a criminalização de notícias falsas.
Na última semana, o Congresso manteve o veto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à Lei de Segurança Nacional, por 317 votos, contra 139 deputados que votaram para derrubar. O trecho vetado pelos parlamentares previa a criminalização do ato de promover ou financiar fake news contra o sistema eleitoral brasileiro.
Conforme mostrou o Congresso em Foco, além da maioria dos congressistas do grupo de trabalho terem votado contra a criminalização das fake news, dois membros do GT são investigados por espalhar notícias falsas.
São eles Gustavo Gayer (PL-GO) e Filipe Barros (PL-PR), ambos investigados no Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito do Inquérito das Fake News. O primeiro, segundo relatório elaborado pela própria Google, empresa proprietária do Youtube, é proprietário do segundo canal que mais lucrou com a monetização de vídeos apagados pela moderação por notícias falsas sobre a pandemia, acumulando cerca de R$ 40 mil com 56 vídeos deletados até junho de 2021.
Filipe Barros, por sua vez, é acusado de compor o chamado Gabinete do Ódio, ponto central da investigação do inquérito, estrutura formada no governo de Jair Bolsonaro para, de acordo com o relator Alexandre de Moraes, praticar a “disseminação de notícias falsas, ataques ofensivos a diversas pessoas, às autoridades e às Instituições, dentre elas o Supremo Tribunal Federal, com flagrante conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática”.
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A formação do grupo de trabalho se dá após a resistência da oposição e o lobby das “big techs” para impedir a votação do relatório do deputado Orlando Silva. Com o GT, a presidência e relatoria do projeto, que foi aprovado no Senado em 2021, devem ser rediscutidas. As mudanças no texto original promovidas pelo então relator foram uma proposta de regulamentação mais ampla das mídias sociais e o ressarcimento das plataformas a veículos jornalísticos.
Confira a lista de membros do grupo de trabalho do PL 2630/2020:
Ana Paula Leão (PP/MG)
Fausto Pinato (PP/SP)
Júlio Lopes (PP/RJ)
Eli Borges (PL/TO)
Gustavo Gayer (PL/GO)
Filipe Barros (PL/PR)
Glaustin da Fokus (PODEMOS/GO)
Maurício Marcon (PODEMOS/RS)
Jilmar Tatto (PT/SP)
Orlando Silva (PCdoB/SP)
Simone Marquetto (MDB/SP)
Márcio Marinho (REPUBLICANOS/BA)
Afonso Motta (PDT/RS)
Delegada Katarina (PSD/SE)
Aureo Ribeiro (SOLIDARIEDADE/RJ)
Lídice da Mata (PSB/BA)
Rodrigo Valadares (UNIÃO/SE)
Marcel Van Hattem (NOVO/RS)
Pedro Aihara (PRD/MG)
Erika Hilton (PSOL/SP)
AUTORIA
PEDRO SALES Jornalista em formação pela Universidade de Brasília (UnB). Integrou a equipe de comunicação interna do Ministério dos Transportes.
Um dos temas mais importantes das eleições municipais deste ano é o que envolve as discussões sobre moradia e políticas habitacionais. São várias as questões que devem ser destacadas e não podem ficar ausentes dos debates eleitorais: onde morar, como morar, em que condições morar, qualidade das habitações construídas por políticas públicas, o valor dos espaços, a infraestrutura e equipamentos comunitários ao redor, a distância dos grandes centros e do emprego, o potencial de construção e os limites de uso do solo, dentre outros.
Trazemos hoje uma entrevista simultânea com as professoras Sarah França (UFS) e Latussa Laranja (UFES), integrantes do INCT Observatório das Metrópoles de Aracajú, e o professor Renato Pequeno (UFC). Eles falam ao programa Espaço Cidadão sobre a importante temática da Moradia e Políticas Habitacionais nas Eleições 2024. Abordam ainda outros assuntos, como moradias precárias nas regiões metropolitanas; política habitacional como interesse comum na região metropolitana; grandes conjuntos habitacionais nas periferias das cidades; política habitacional e periferização do Minha Casa, Minha Vida; habitação social no debate metropolitano das eleições 2024; programas de urbanização das favelas; necessidade de programas urbanos nas favelas, para além da regularização fundiária; a distância e o problema das habitações populares construídas nas periferias; a associação entre a política habitacional e a política urbana nas eleições 2024.
Essa entrevista integra o projeto “Observatório das Metrópoles nas Eleições: um outro futuro é possível”, que visa incidir na agenda pública das eleições de 2024, com a elaboração de artigos de opinião, entrevistas e cartas de compromisso pelo coletivo de pesquisadoras e pesquisadores integrantes dos 18 núcleos regionais da rede de pesquisa.
Confira a entrevista:
AUTORIA
ROBSON CARVALHO Doutorando em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), é apresentador de TV na Band Nordeste e na TVT, de São Paulo.