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Cenário econômico, com inflação mais alta e desemprego em baixa, dá melhores argumentos aos empregados nas negociações do segundo semestre

Inflação em alta, desaceleração da economia e boa oferta de em­­prego prometem endurecer as negociações salariais no segundo semestre. As centrais sindicais avisaram que as paralisações devem pipocar a partir do próximo mês, quando cerca de 7 milhões de brasileiros estarão em campanha salarial. Pelo menos três categorias de peso – bancários, metalúrgicos e pe­­troleiros – têm data-base no se­­gundo semestre. Somente no Pa­­raná as negociações envolvem cerca de 1,3 milhão de empregados.

Com o desemprego em níveis historicamente baixos, a tendência é que as greves sejam mais frequentes e mais longas. “A nossa expectativa é de uma greve muito dura em 2011, já que a nossa data-base deve coincidir com o período de pico da inflação, em setembro”, afirma André Machado, secretário de imprensa do Sindicato dos Bancários da Grande Curitiba, que representa 18 mil trabalhadores. No ano passado, os bancários fizeram uma greve de 15 dias e conquistaram um aumento real de 3,8%, além de reajuste do piso de 16%. “A nossa proposta final de reivindicações só deve ficar pronta no fim de julho, mas é provável é que ela contemple um reajuste real de 5%”, afirma.

A paralisação de 37 dias na Volkswagen do Paraná, que garantiu aos metalúrgicos da montadora uma Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de R$ 11,5 mil e reajuste real de 2,5%, dá uma medida do ambiente entre empresas e trabalhadores nesse ano. Os 3,6 mil metalúrgicos da Bosch estão em greve há uma semana e reivindicam uma PLR de R$ 9 mil.

Exigências

A taxa de desemprego em 6,4% no mês passado – a menor para maio desde o início da série histórica medida pelo IBGE – e a situação de pleno emprego em algumas cidades têm favorecido o argumento dos empregados nas negociações. Para Sergio Butka, presidente do Sindicato dos Metalúr­gicos da Grande Curitiba e da Força Sindical no Paraná, quanto maior a oferta de emprego, maior a exigência do trabalhador nas negociações. “As empresas têm consciência de que não podem perder mão de obra qualificada. Vamos para a negociação com as montadoras já com um histórico de greves e de avanços no fim do ano passado e nesse ano”, afirma. A Força Sin­dical tem 90 sindicatos filiados no Paraná, que representam entre 700 mil e 900 mil trabalhadores.

Já se esperava que 2011 fosse um ano de negociações mais duras entre patrões e empregados do que em 2010, de acordo com Sandro Silva, economista do Departa­mento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Paraná. “A tendência é de que prevaleçam os ganhos reais, mas em um nível menor do que no ano passado”, avalia. Quase 94% das categorias receberam aumento acima do INPC em 2010.

A disparada da inflação tem dificultado as conversas sobre ganho real. Usado na maioria das negociações salariais, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que acumulava 4,6% nos 12 meses terminados em setembro de 2010, chegou a 6,4% nos 12 meses terminados em maio deste ano. No entanto, em setores onde há escassez de mão de obra – como o de construção civil e petroquímica – os trabalhadores vêm conquistando reajustes maiores. Cerca de 20 mil empregados terceirizados da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) e da Vale Fertil, em Araucária, conquistaram ganhos reais de 3,5% e 4,5% nas negociações desse ano.

33% de reajuste

Os trabalhadores da construção civil, que estão em plena convenção coletiva, estão pedindo 33% de reajuste nominal salarial nesse ano. Domingos Oliveira Davide, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (Sintracon), admite que o valor “é alto”, mas, segundo ele, é um ponto de partida para a negociação. No ano passado, os 40 mil trabalhadores representados pela entidade em Curitiba e região metropolitana conquistaram um aumento real de 4,45%. “A construção civil, mesmo aquecida, está perdendo mão de obra qualificada para outros setores. Os patrões têm de ter consciência que é necessário criar um programa para tornar o setor atraente para esses trabalhadores”, afirma. A última greve no setor foi em 2009. Em áreas onde já houve convenção, como São Paulo e o Distrito Federal, os aumentos reais ficaram em 3,4% e 2,7% respectivamente.

“A inflação mais alta e a perspectiva de crescimento menor da economia fazem com o que o trabalhador tente recuperar o que ele perdeu ao longo dos últimos meses. É preciso lembrar que o trabalhador está olhando para o retrovisor, para um ano em que a economia cresceu 7,5% e as empresas aumentaram seus lucros e suas receitas”, afirma Sandro Silva, do Dieese.

Fonte: Gazeta do Povo